Aqui ficam algumas notas e impressões do que foi a experiência London Book Fair 2009:
- Redução da dimensão da Feira, fazendo com que cerca de 20% do segundo pavilhão estivesse por ocupar, apesar das notícias internacionais que apontavam para um aumento de participações. Se tal aconteceu, cada um dos participantes terá optado por espaços mais curtos. O que também poderá ser interpretado como um desinvestimento na feira.
- Feira cinzenta, com mais do mesmo face à feira de 2008: mesmas editoras usando os mesmos stands, nos mesmos espaços.
- A Índia, enquanto país convidado, apresentou-se de mãos vazias. Quem esperava Bollywood viu uma espécie de produção «rasca» de série C. Stands padronizados atrás de stands padronizados, com poucas ideias e sem percebermos se alguém levou a sério o convite.
- O livro no contexto da era digital. Apesar do recente lançamento do Kindle 2, a Amazon decidiu não estar presente. Igual comportamento tiveram outros gigantes, como o Google, assim como os produtores de aparelhos para leitura de eBooks. Excepção feita para a Sony, que, com stand próprio, encheu o pavilhão 2 de encontros e conferências dedicadas ao livro e à leitura digital, tendo disponibilizado para testes o mais recente Sony Reader (o que deu para notar as limitações deste aparelho).
- Representações oficiais. Muitos países e regiões a marcarem presença na Feira de forma oficial e institucional: Roménia (belíssima surpresa), Espanha, Emirados Árabes Unidos, Rússia, Catalunha, entre outros. A União Europeia, contrariamente ao ano anterior, optou por não estar presente.
- Representação portuguesa. Poderá ser apenas uma percepção, mas as editoras portuguesas terão desinvestido na Feira. Vimos poucos portugueses, que quase sempre indicavam que estariam na feira um dia, ou «só mais uma manhã». Pese embora algumas excepções (quase sempre grupos de grande dimensão). A nível oficial, a DGLB marcou presença em dois stands diferentes.
- Menos pessoas. A Feira recebeu muito menos visitantes que em edições anteriores. Embora a imprensa internacional tenha indicado que, apesar desta realidade, a feira foi boa para o negócio editorial, não deixa de ser verdade que, no último dia (tradicionalmente já mais fraco, bem certo), o espaço estava praticamente vazio.
- Rumores. O fracasso Byblos chegou a Londres e muitos agentes mostravam-se informados do que se passara. A esta notícia, juntaram-se outras dúvidas e incertezas quanto à vitalidade e viabilidade de alguns projectos portugueses, o que, em situação alguma, será positivo para a projecção do sector editorial português no estrangeiro.
- Promoção editorial. Um dos principais motivos que me levam às feiras é procurar os materiais que os editores utilizam para promover autores e obras. Também aqui a desilusão foi grande. Mais do mesmo, ou mesmo nada. Os mesmos marcadores, os mesmos mini-livros, canetas, lápis. Uma desilusão pegada que em nada ficou a dever à Concreta ou à Tektonica.
- Programação paralela. Apesar de bastante diversificada, debateu-se pouco (ainda que fossem muitas as propostas de seminários e conferências), como se estivéssemos todos de acordo sobre os mesmos assuntos. Deu, contudo, para encontrar o anónimo Mike Shatzkin a passear-se pelos corredores e pedir-lhe para tirar uma fotografia. Que ficou desfocada (obrigado, Sérgio!).
- Espaços específicos. Dentro da programação paralela, um dos espaços mais animados foi o Cook Book Corner, onde, aí sim, os editores de culinária e gastronomia indianos fizeram valer os seus créditos. No último dia de feira, também a Oficina do Livro se fez representar, através de uma animada e bem-disposta demonstração de culinária de Chakall (tal como se verificara na edição anterior da Feira). Nas prateleiras do Cook Book Corner estavam também expostas algumas obras de editora portuguesas.
- Novidades. Ausência de grandes novidades ou sururu à volta de eventuais lançamentos. Excepção, claro está, para o novo livro de Dan Brown. Mas dados os sucessivos adiamentos, apetece perguntar: será desta?
- Organização. Continuamente profissional e dedicada, consegue resolver em poucos minutos qualquer situação.
- Press Centre. Melhor equipado que o de Frankfurt (existem computadores disponíveis, evitando que estes profissionais levem o seu próprio equipamento), escassearam ainda assim grandes notícias.
- Mais do mesmo. Epígonos e sucedâneos de ‘fórmulas’ e conceitos de livros que “estão a dar”. Novas ideias escassearam, o que pode antever uma Feira de Frankfurt sem grandes expectativas, já que ali, muitas vezes vemos a concretização dos projectos que se anunciam em Londres.
- Reutilização de conteúdos. Mesmo conteúdo: coloca-se cor às imagens a preto e branco, mudam-se formatos, novo papel. O essencial – o conteúdo – mantém-se o mesmo. Mais um sinal da crise de ideias.
- Agentes e direitos. Reflexo ou não da crise, certo é que também por entre as principais agências de direitos internacionais deu para notar o esmorecimento da feira de Londres. Reflexo ou não da crise, a outros caberá julgar. Se as principais agências anglo-saxónicas estavam todas presentes, o mesmo não aconteceu, por exemplo, com alguns agentes espanhóis. Nestes casos, caberia ao representante da própria casa editorial apresentar as suas listas a quem o solicitasse. Outras agências optaram por enviar apenas os responsáveis pelos direitos anglo-saxónicos. Até aí, nada de estranhar, visto que o Salon du Livre de Paris, que ocorreu em Março, ser tido como plataforma mais aproximativa para a abordagem ao mercado francófono.
- Spring Lists. Qualquer editor português com que nos cruzássemos na feira nos diria que as propostas de editoras e agentes se saldaram pela falta de «grandes coelhos na cartola», para citarmos uma das expressões ouvidas. Com efeito, as listas sugeridas pelos agentes denotam uma abordagem pouco personalizada às reais necessidades dos editores (salvam-se algumas honrosas excepções), sugerindo mais do mesmo. Por vezes, quase que tentavam «impingir» determinados títulos. As famosas Spring Lists, que deram à Feira de Londres a aura que ainda hoje transporta, parecem ter ficado na gaveta.
Uma coisa é certa: se as listagens de Primavera costumam prometer mais do que as de Outono, o que poderemos aguardar da próxima edição da feira de Frankfurt?
(pf)