segunda-feira, 9 de março de 2009

LER de Março

«O Magalhães é o maior assassino da leitura em Portugal»

António Barreto não poupa nas palavras quando fala de uma das principais bandeiras do governo de José Sócrates: o computador Magalhães. «Da maneira como o Governo aposta na informática, sem qualquer espécie de visão crítica das coisas, se gastasse um quinto do que gasta, em tempo e em recursos, com a leitura, talvez houvesse em Portugal um bocadinho mais de progresso. O Magalhães, nesse sentido, é o maior assassino da leitura em Portugal», considera o sociólogo e presidente da nova Fundação Francisco Manuel dos Santos, em entrevista à revista LER, nas bancas a partir de amanhã. «Chegou-se ao ponto de criticar aquilo a que chamaram “cultura livresca”. O que é terrível. É a condenação do livro. Quando o livro é a melhor maneira de transmitir cultura. Ainda é a melhor maneira. A coroa de todo este novo aparelho ideológico que está a governar a escola portuguesa – e noutras partes do mundo – é o Magalhães. Ele foi transformado numa espécie de bezerro de ouro da nova ciência e de uma nova cultura, que, em certo sentido, é a destruição da leitura.»
Temas da longa conversa com Carlos Vaz Marques foram também as suas primeiras leituras, a «tentação do romance», os novos projectos da Fundação Francisco Manuel dos Santos, as temporadas em Oxford (onde lê ficção «para a desbunda»), a relação com Portugal a partir da década de 60 («tive alturas em que Portugal me interessava e vivia frustrado por não poder voltar e houve momentos em que era exactamente o contrário e eu não queria nem ouvir falar de Portugal. Cheguei mesmo a pôr a hipótese de me naturalizar suíço») e a radiografia da escola portuguesa: «Passaram 50 anos e, por razões diferentes, a escola hoje destrói a leitura. Seja com a análise estruturalista linguística dos textos, seja pela ideia de que escola tem de ser mais a acção e tem de ser mais projecto e mais mil coisas que fazem a nova escola. A leitura na escola é a última das preocupações.»

Também na edição de Março da LER, o investigador Richard Zenith revela e comenta mais seis inéditos que encontrou de Fernando Pessoa e Carlos Câmara Leme conta toda a história do Livro do Desassossego. E a propósito do livro Intelectuais, de Paul Johnson, agora editado em Portugal, João Pereira Coutinho, Lídia Jorge, Maria Filomena Mónica, Miguel Esteves Cardoso, Pedro Mexia e Teresa Rita Lopes falam sobre as virtudes públicas e vícios privados dos intelectuais.
E, ainda, os próximos livros do historiador Rui Tavares («Espero ainda este ano avançar para Os Dois Mundos, um trabalho sobre a Europa e os EUA entre 2000 e 2008, ou seja, durante a Presidência de George W. Bush»), a sala de trabalho de Gastão Cruz (que prepara uma edição da sua poesia completa), as biografias preferidas do crítico de cinema João Lopes e os livros que o editor Manuel Alberto Valente gostaria de ter editado. Em paralelo, José Miguel Júdice dá o seu palpite para o próximo Nobel da Literatura, Jorge Reis-Sá antecipa o 23 de Abril (sim, 23 de Abril), Fernando Pinto do Amaral desilude-se como entrevistador no sofá da LER, Rogério Casanova evoca John Updike na sua coluna habitual e conversa com Peter Carey a pretexto do livro O Japão É Um Lugar Estranho, recém-editado pela Tinta-da-China.

Crónicas de Abel Barros Baptista, José Eduardo Agualusa, José Mário Silva, Pedro Mexia, Filipe Nunes Vicente, Eduardo Pitta, Francisco Belard, Inês Pedrosa e Onésimo Teotónio de Almeida. E livros, muitos livros: leituras de ensaios por Rui Bebiano, de livros infantis por Carla Maia de Almeida e de Gestão & Economia por Fernando Sobral. Além de críticas assinadas por José Mário Silva, Sara Figueiredo Costa, Filipa Melo, José Riço Direitinho e José Guardado Moreira.