sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O Medo do Desconhecido

Decorreu esta manhã, sexta-feira 13, a 5.ª mesa do Correntes D'Escritas, sob o título «O Medo ou o Fascínio do Desconhecido».

Estiveram na mesa Andrea Blanqué (Uruguai), Jesus del Campo (Espanha), Joaquim Arena (Portugal/Cabo-Verde), Rui Machado (Portugal) e Moacyr Scliar, com a moderação de José Carlos Vasconcelos.

Esta foi uma sessão marcada pelo humor e pela boa disposição, em particular nas intervenções de Moacyr Scliar e Andra Blanqué.

Moacyr Scliar começou com falar «da banana como baliza do desconhecido».

Recordando a luso-brasileira Carmen Miranda, Moacyr falou do desconhecido do Brasil do início do séc. XX, quando seu pai, refugiado da guerra civil soviética após a revolução, embarcou num cargueiro para Porto Alegre, no Brasil.
«As frutas brasileiras eram o sonho europeu», continuou Moacyr, falando de um mundo nunca visto pelo seu pai, e a surpresa que teve ao receber de gaúcho um fruta estranha e desconhecida, uma banana.
Pesquisando o desconhecido, retirou a casca e jogou o caroço fora, comendo somente o resto «ou seja, a casca».
O desconhecido era assim marcado pelo olhar deslumbrado e privilegiado de quem nunca viu, da inocência e da primeira visão.

Rui Machado abordou a importância do medo - o seu fascínio e a forma como nos faz avançar, nos atrai e nos torna cautelosos.
Andrea Blanqué, preferiu falar das desconhecidas, ou seja, das personagens.
Numa conversa alegre e descontraída, que por mais do que uma vez trouxe o riso à sala, Andrea explicou que as personagens são desconhecidas, são «outras» que lhe chegam nas alturas mais impróprias e lhe contam a sua história, «desconhecidas» de quem ela nem sequer sabe muitas coisas, apenas a sua imagem e aquilo que elas lhe disseram.

Joaquim Arenas trouxe a infância e a mãe para o seu discurso, recordando «os quatro livros que tinha da na sua casa», uma pensão clandestina para emigrantes que vinham de Cabo-Verde e pernoitavam em Lisboa em trânsito para outros destinos.
Recordou o fascínio por esses livros, e a forma como a mãe os colocava na mesa sempre que escrevia as cartas semanais para a família espalhada pelo mundo.
Só mais tarde descobriu que em cada um desses livros eram guardados os selos respectivos.

Jesus del Campo, por fim, contou histórias cruzadas, falou do que (factualmente) estavam a fazer Casanova, Goethe, James Cook e um emigrante russo num dia de natal de há muitos anos atrás. Falou dos «links existentes entre eles, de como esse russo iria fazer parte da história, por ter sido bisavô de Kidd, parceiro de Sundance (ver o filme Dois Homens e um Destino), e falou em especial do que não se sabe, da atracção pelo desconhecido, pela paixão de saber quem eram os soldados columbianos que mataram os «outlaws», quem era D. Gloria, a presa de então de Casanova, ou com quem iria Goethe tomar chá nesse dia.
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