sexta-feira, 3 de outubro de 2008

País tema: Itália (I)

O mercado da língua italiana é composto por cerca de 70 milhões de potenciais leitores (59 milhões só em Itália).

Com um papel importante no mercado editorial europeu, associado a uma indústria gráfica poderosa, ainda hoje, o livro infantil e algum do livro ilustrado, encontra parte do seu expoente em terras de Itália, nomeadamente pela prestigiada feira anual do livro infantil de Bolonha.

Nos próximos tempos, iremos falar sobre este mercado, apresentar algumas das suas figuras históricas e valores actuais do mercado.

Hoje: Giulio Einaudi
Filho de um economista prestigiado, Giulio nasceu em 1912 perto da fronteira com a França.

Amigo íntimo de Cesare Pavese, com quem faz amizade na Universidade e funda a Fraternidade, que se reunia no Café Rattazzi, discutindo política (antifascista) e literatura.

Aos 18 anos, toma conta da revista que o pai fundou, La Riforma Sociale, iniciando, assim, a sua carreira no mundo editorial. A 15 de novembro de 1933, nascia oficialmente a Giulio Einaudi Editore.

Naturalmente que um projecto se que pretendia «com intervenção no campo da história, da crítica literária e da ciência, e com a intervenção de todas as escolas válidas, onde a política não prevalece sobre a cultura», rapidamente chega aos ouvidos de Mussolini e, após a publicação das suas primeiras obras, a primeira das quais O Que Quer a América, do então vice-presidente dos EUA Henry Agard Wallace, a participação de Einaudi em alguns movimentos clandestinos acabaria por o levar à prisão, em 1935, e posterior exílio.

A casa, no entanto, manteve-se graças a Leone Ginzburg e Cesare Pavese, onde este último iniciaria uma das mais famosas colecções de literatura traduzida, contando, ainda antes da Guerra, com autores como Defoe, Gertrude Stein, Dickens ou Melville.

A casa manteve-se sempre a trabalhar e, mesmo após os bombardeamentos de 1943 terem atingido as suas instalações, Pavese, Einaudi (entretanto regressado) e companheiros chegavam pontualmente ao trabalho para o seu ofício de editores.

Ginzburg falece em 1943, após ter sido capturado por soldados alemães da ocupação, e Einaudi foge para a Suíça, onde aproveita para conseguir direitos importantes como Hemingway ou Sartre.

Após a guerra, Einaudi é a única casa editorial que nunca apoiou activamente ou colaborou com o regime fascista, ganhando o apoio da comunidade intelectual e a companhia de autores como Elio Vittorini, Italo Calvino, Natalia Ginzburg, Luciano Foa ou Giulio Bollati.

Einaudi, a editora avant-garde, da liberdade e da democracia, nascia enquanto mito europeu ainda nas mãos de Giulio Einaudi: autoritário, absolutista, perfecionista, acrescentando no seu catálogo muitos dos grandes nomes da literatura mundial, como Marcel Proust, Bertolt Brecht, Jean Paul Sartre, Thomas Mann, Jorge Luis Borges, Robert Musil, etc.

A partir da década de 1980 a crise chega e a editora é finalmente vendida, mantendo Giulio Einaudi como presidente até à sua morte, a 5 de Abril de 1999.