sexta-feira, 18 de abril de 2008

Carta aberta da APEL - Feira do Livro de Lisboa

Reproduzimos aqui a carta aberta, intitulada "A Feira do Livro é de Lisboa!", apresentada ontem na Assembleia de Participantes, que conta já com a subscrição de dezenas de editores e livreiros da APEL.

«A Feira do Livro é de Lisboa!

A pouco mais de um mês da data agendada para o início da 78.ª Feira do Livro de Lisboa – próximo dia 21 de Maio – existem sérias dúvidas quanto à realização e sucesso deste evento, um dos mais importantes e significativos da cidade de Lisboa na área da cultura.

A causa para esta desagradável situação reside na atitude de um grupo editorial, recentemente criado após um processo de aquisições de várias editoras, que insiste numa lógica de defesa dos seus objectivos de marketing em detrimento do espírito que define a essência e a própria razão de ser da Feira do Livro de Lisboa.

A tal atitude tem-se oposto a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros – APEL, desde sempre responsável pela organização das Feiras do Livro de Lisboa e Porto e que entende que o evento existe para servir os seus habituais visitantes, promovendo o livro e a leitura através da disponibilização de toda a produção bibliográfica portuguesa.

Para que todos possam reflectir sobre o que está em causa, os subscritores desta carta, editores e livreiros participantes há longa data na Feira do Livro de Lisboa, partilham, por este meio, a visão que têm sobre o que é a Feira do Livro. Trata-se, em concreto, da posição da APEL, como Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, e não apenas de Editores.

O nosso entendimento é que o certame deve ser um dos mais importantes acontecimentos culturais da cidade – e, reconheça-se, tem-no sido ano após ano – e deve servir um grande objectivo: expor a edição portuguesa disponível. Este modelo de Feira é claramente distinto dos certames profissionais de entradas pagas, como a FIL ou a Feira de Frankfurt, de Londres ou de Paris e as muitas mais fora do âmbito do livro.

A Feira do Livro de Lisboa estará, sim, bem mais próxima de uma Feira do Livro de Madrid: realiza-se ao ar livre, apresenta-se com pavilhões homogéneos, oferece animação em prol da leitura, tanto para adultos como para crianças... É uma Feira concebida para promover o livro e a leitura e não como operação de marketing para concorrer com os livreiros.

No formato da nossa Feira, deve estar bem presente o primado da exposição bibliográfica sobre o comércio do livro, no interesse de todos os que a visitam, pois as Feiras não devem arvorar-se em concorrentes dos livreiros.

Esta visão de Feira do Livro, que assim é de Lisboa, tem-se concretizado ao longo do tempo e, por conseguinte, também nos últimos cinco anos, graças ao entendimento entre a APEL e a União de Editores Portugueses (UEP), uma associação estritamente de editores que tem colaborado na organização da Feira do Livro de Lisboa.

Ora, parte precisamente de alguns editores da UEP, num movimento liderado pelo Grupo Leya, a intenção de transformar a Feira do Livro num acontecimento de características puramente comerciais.

Para nós, tal como para a APEL, tal tipo de Feira, a concretizar-se, deve realizar-se noutro momento e local não coincidentes com a realização da Feira do Livro de Lisboa, que, sob a organização da APEL, tem conseguido dignificar o livro, promover a leitura e, ao mesmo tempo, estimular o comércio livreiro, cujo papel nesta festa da cidade não deve ser ignorado.

Não vemos, portanto, qualquer viabilidade ou interesse público numa eventual fusão destes dois tipos de realizações sem que tal coloque em causa o atrás exposto. Acreditamos que a Câmara Municipal de Lisboa reconhecerá as razões que nos assistem.

Consideramos que a APEL, como Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, tem uma visão equilibrada dos interesses em presença e por isso mesmo defende uma Feira que se opõe à concorrência com o circuito livreiro. A Feira é para dar a conhecer todos os livros em circulação, sendo que este conhecimento, se por um lado promove as vendas na própria Feira, por outro contribui também para a dinamização do mercado livreiro.

Por fim, e para que as decisões a tomar não fiquem reféns dos caprichos de quem não vê para lá dos seus interesses comerciais, importa sublinhar que, a concretizarem-se as ameaças de ausência de determinadas (poucas) editoras, as eventuais perdas seriam recuperadas e o impacto seria muito menor do que uma descaracterização da Feira do Livro de Lisboa. Aí, as perdas seriam, para todos, verdadeiramente irreparáveis.»