domingo, 25 de novembro de 2007

Acordo ortográfico

Deixamos excertos de um artigo publicado no jornal Expresso de ontem (24.11.2007), 1º caderno, página 12, redigido por Cristina Figueiredo, sob o título “Acordo ortográfico aprovado até final do ano só vigorará em 2017”, dando conta dos avanços no acordo ortográfico entre Portugal e Brasil.

E ainda um testemunho de Miguel Sousa Tavares, publicado no mesmo jornal, na página 7, sobre este mesmo tema.

«O acordo ortográfico vai finalmente ser assinado. Mas os portugueses dispõem de 10 anos para se habituarem às regras

Agora é que é. Dezassete anos depois, o Estado Português já não tem como fugir do compromisso. Adiou até onde pôde, mas as pressões, sobretudo por parte do Brasil (o principal interessado num acordo que vai alterar 1,6% do vocabulário luso e apenas 0,45% do ‘brasileiro’), levaram o Ministro dos Negócios Estrangeiros a comprometer-se: o protocolo que modifica as regras da língua portuguesa será assinado até ao final do ano. Ainda assim, é só para valer daqui a 10 anos, graças a uma ‘reserva de aplicação’ a que cada parceiro do acordo (os oito Estados-membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa) pode recorrer e que Portugal decidiu invocar.

O anúncio de Luis Amado ressuscitou uma a controvérsia em torno de um acordo que nunca foi consensual.

(…)

Também a Sociedade Portuguesa de Autores e Associação Portuguesa de Editores e Livreiros emitiram comunicados, esta semana, onde dão conta da sua preocupação com o que consideram ser um acto “precipitado e estranho” e apelam ao governo “para que desencadeie um debate público” antes de proceder a qualquer ratificação.”

Nota: Para os interessados nos comunicados que a Jornalista referencia na notícia acima, os mesmos poderão ser encontrados [aqui e aqui]


Testemunho de Miguel Sousa Tavares (Expresso, 1º caderno, página 07, 24.11.2007):
«Há mais de dez anos que vivemos com esta espada suspensa sobre a cabeça: quando não têm mais nada com que se entreter para exibir a sua importância, os senhores da Academia das Ciência e os ministros dos Estrangeiros gostam de nos ameaçar com o acordo ortográfico, cujo objectivo único é por-nos a escrever como os brasileiros, assim lhes facilitando a sua penetração e influência nos países de expressão portuguesa. Como diz Vasco Graça Moura, o acordo é um «diktat» neo-colonial, em que o mais forte (o Brasil) determina a sua vontade ao mais fraco (Portugal). Alguém imagina os Estados Unidos a ditarem à Inglaterra as regras ortográficas da língua inglesa? Ou o Canadá a ditar as do francês à França ou a Venezuela as do espanhol a Espanha?

Dizem que isto vai facilitar a penetração da literatura portuguesa no Brasil, mas ninguém perguntou a opinião dos autores portugueses. Há quatro anos atrás, publiquei um livro no Brasil e, contra a opinião de alguns ‘sábios’ e as várias insistências da editora brasileira, o livro reza assim na ficha técnica: “A pedido do autor, foi mantida a grafia da edição original portuguesa”. Apesar dos agoiros de desastre que essa teimosia minha implicaria, o livro vendeu até hoje cerca de 50.000 exemplares no Brasil. Perdoem-me a imodéstia, mas orgulho-me de ter feito mais pela nossa língua no Brasil do que todos esses que se dispõem a vendê-la como coisa velha e descartável».