quarta-feira, 26 de maio de 2010

Opinião: O ponto e o contraponto - concentração vertical no mundo editorial: as consequências (Parte II), por Nuno Pinho

O PONTO E O CONTRAPONTO — CONCENTRAÇÃO VERTICAL
NO MUNDO EDITORIAL: AS CONSEQUÊNCIAS (parte II),
por Nuno Pinho (*)

[Parte I]

Porto Editora: grupo de editoras/rede de retalho Wook e Bertrand/revista LER/Wook
LeYa: grupo de editoras/rede de retalho CE/revista Os Meus Livros/Mediabooks

Quais são as consequências desde agigantar de empresas já de si muito destacadas no panorama editorial? Em primeiro lugar, os restantes grupos editoriais diminuem sem nada fazerem. O recente grupo Babel, que entrou com tanta ambição no panorama editorial, parece subitamente mais pequeno, mesmo após ter adquirido/criado uma série de chancelas. Poderá ter dificuldades acrescidas na sua estratégia. O mesmo é válido para a rede de retalho Almedina (grupo onde trabalho) ou para editoras de dimensão já elevada, como a Presença ou a Civilização.

As redes de livrarias/hipermercados sofrerão uma pressão maior destes grupos, que agem de forma cada vez mais profissional (ambos trabalham com agências publicitárias, tendo a Porto Editora feito mesmo um recente rebranding) e poderão negociar melhor os descontos «de factura». Inversamente, poderão não só piorar as condições de entrada para as restantes editoras, como ocuparão uma percentagem ainda maior do espaço disponível nas lojas (estima-se que os dois grupos poderão ocupar mais de dois terços do espaço disponível), potenciando uma espiral de concentração que se auto-alimenta. Como mudará o negócio, por exemplo, no mundo das gráficas? Relembre-se que a PE tem bloco gráfico próprio, enquanto a Bertrand recorria ao outsourcing.

Em suma, o recente movimento de concentração editorial vertical terá certamente consequências profundas para o mercado editorial, ainda que nem sempre visíveis à superfície. Gostaria de deixar claro que estas movimentações são legítimas e até expectáveis, mas não podem deixar de ser assinaladas e analisadas. Como pode o resto do mercado responder e reagir? Isso daria outra conversa, que estará decerto na boca de muitos editores durante o próximo ano. Não se distraiam com o iPad: o futuro da edição passa por aqui.

(*) Nuno Pinho é secretário editorial no grupo Almedina e leitor insaciável, estando a terminar um mestrado em Estudos Editoriais na Universidade de Aveiro, após uma curta passagem pela Fnac.
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