sábado, 19 de setembro de 2009

Pré-publicação: A Talentosa Flavia de Luce, de Alan Bradley (Planeta)

«Estamos no Verão de 1950 e Buckshaw é a decadente mansão inglesa onde Flavia mora com a sua família, o pai viúvo, coleccionador obsessivo de selos, e duas irmãs, nem sempre muito simpáticas… Com uma inteligência aguçada para a idade, Flavia vive num mundo próprio. Refugiada num velho laboratório vitoriano onde já ninguém vai, entretém-se a inventar venenos inofensivos que servem, no entanto, as suas pequenas vinganças domésticas. Uma menina com cara de anjo mas alguma maldade…

Subitamente, Buckshaw é atingida por uma série de acontecimentos inexplicáveis. Um pássaro morto é encontrado no degrau da porta, com um selo de correio espetado no bico. Algumas horas depois, Flavia descobre um homem caído no meio dos pepinos e vê-o exalar o seu último suspiro. Para a pequena, que fica ao mesmo tempo chocada e encantada, a vida começa realmente a sério quando o homicídio chega à velha mansão.

Uma pintura perspicaz do sistema de classes e da sociedade da época, A Talentosa Flavia de Luce é uma história de enganos magistralmente contada e um magnífico gozo literário.»

Capítulo 1:

«O interior do armário era preto como sangue velho. Tinham-me empurrado lá para dentro e trancado a porta. Respirei com dificuldade pelo nariz, lutando desesperadamente para me manter calma. Tentei contar até dez a cada inalação e até oito sempre que expirava devagar para a escuridão. Felizmente para mim, tinham puxado a mordaça com tanta força na minha boca aberta que as narinas se tinham desobstruído e conseguia aspirar e encher lenta e ritmicamente os pulmões com o ar bafiento e cediço.

Tentei enganchar as unhas dos dedos por baixo do lenço de seda que me atava as mãos atrás das costas, mas como as roía sempre até ao sabugo, não havia nada para agarrar. Fora por isso uma grande sorte ter-me lembrado de juntar as pontas dos dedos, usando-as como dez pequenas e firmes bases de compressão para manter as palmas afastadas quando elas tinham apertado os nós.

Rodei assim os pulsos, espremendo-os até sentir um pouco de folga, e usei os polegares para puxar a seda para baixo até que os nós se acharam entre as minhas palmas e, a seguir, entre os meus dedos. Se tivessem sido suficientemente espertas para pensar em atar-me os polegares, nunca teria escapado. Que perfeitas idiotas eram.

Com as mãos livres por fim, desfiz a mordaça num instante.

Agora a porta. Mas primeiro, para ter a certeza que não me preparavam uma emboscada, agachei-me e espreitei pelo buraco da fechadura para o sótão. Graças aos céus tinham levado a chave com elas. Não se via ninguém: exceptuando o perpétuo emaranhado de sombras, tralha e bricabraque triste, o comprido sótão estava vazio. A costa estava livre.

Erguendo o braço por cima da cabeça para a parte de trás do armário, desatarraxei um dos ganchos metálicos para casacos da sua tábua de suporte. Encravando a ponta curva no buraco da fechadura e usando a outra extremidade como alavanca, consegui formar um gancho em forma de L, que mergulhei nas profundezas da fechadura antiga. Algumas sacudidelas e empurrões judiciosos produziram um clique gratificante. Foi quase fácil de mais. A porta abriu-se e encontrei -me em liberdade.


Buckshaw era a casa da nossa família, a família de Luce, desde tempos imemoriais. A actual casa georgiana fora construída para substituir a original isabelina que fora completamente destruída pelo fogo por aldeães que suspeitavam que a família de Luce simpatizava com Orange. O facto de termos sido católicos fervorosos durante quatrocentos anos e assim continuarmos, não significara nada para os exaltados cidadãos de Bishop’s Lacey. A «Casa Velha», como era chamada, ardera e a casa nova que a substituíra ia agora no seu terceiro século.


Existia até um esqueleto humano articulado num suporte com rodinhas, oferecido a Tar, quando este tinha apenas doze anos, pelo grande naturalista, Frank Buckland, cujo pai comera o coração mumificado do rei Luís XIV.»

Alan Bradley nasceu em Toronto, e cresceu em Cobourg, Ontário. Formou-se engenharia electrónica, e trabalhou em várias estações de rádio e televisão, em Ontário, e no Instituto Politécnico Ryerson (agora Ryerson University), em Toronto, antes de se tornar director de Engenharia de Televisão.

Reformou-se em 1994, altura em que se dedicou por inteiro à escrita. Publicou vários textos infantis. O mais popular, Meet Miss Mullen, mereceu o prémio Saskatchewan Writers Guild Award for Children's Literature. Fundou The Casebook of Saskatoon, uma associação dedicada ao estudos de Sherlock Holmes.

A Talentosa Flavia de Luce é o seu primeiro livro para adultos, protagonizado por uma heroína infantil. Publicado em França, Alemanha, Espanha, Canadá, Estados Unidos e Inglaterra, o livro tornou-se de imediato um fenómeno junto do público e a pequena Flavia já tem uma página de fãs na Internet: http://flaviafanclub.ning.com

O autor foi distinguido com o Debut Dagger Award 2007.

Página de Alan Bradley em http://www.flaviadeluce.com

328 páginas. PVP 18,85.
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