segunda-feira, 9 de março de 2009

A traição das traduções – Hugo Xavier responde a Saki

N.E.: Apenas publicamos este comentário porque Hugo Xavier decidiu responder. No entanto, agradecemos que todos aqueles que queiram participar na discussão se identifiquem e, para cada uma das suas conclusões («...em grande parte das obras, não é bem Português que estamos a ler...»), apresentem as premissas. Conclusões sem premissas não serão publicadas.

Comentário de Saki a negro, resposta de Hugo Xavier a azul.

«Hugo Xavier,

ainda bem que inclui uma pequena biografia sua, para (todos) nos situarmos.
A Cavalo de Ferro, que adoro, pois não domino as línguas «mais exóticas» com que se lançou, e cuja literatura preciso assim de ler em tradução, peca por falta de revisão pois, em grande parte das obras, não é bem Português que estamos a ler.

Cara anónima, acredito que aconteça. Somos humanos, deve haver erros... agora daí a não ser português (com erros) vai alguma distância. Acredite-me também que falar sem dar exemplos fica algo feio. Mas a Cavalo de Ferro tem sofrido sempre esse tipo de críticas.

Acredito que não tenha feito parte das suas responsabilidades, mas a editora Vega é lendária por não pagar, de todo, aos seus tradutores. Não me aconteceu a mim, que sou tradutora há dez anos, e que tanto trabalho para quem até nem paga mal e dá prazos simpáticos, como para quem paga o mínimo do mercado, e exige contrato reconhecido notarialmente de todas as vezes (para abdicar dos direitos de autor, bem entendido, que nem deviam ficar aqui num parêntesis, pois o assunto é importante).

Claro que nunca fez porque a saber, como o sabe, saberá igualmente que quem paga é quem decide, o clássico Sr. Assírio Bacelar. Portanto, não percebo onde quer chegar com esse comentário. Mais lhe digo que vários dos tradutores da Vega vieram comigo para a Cavalo de Ferro. Isso significará algo para si enquanto tradutora, imagino.

Ora só aceita este estado de coisas quem quer, e um amigo advogado diz-me sempre que, se nos juntássemos, nós tradutores, e exigíssemos condições e reconhecimento, conseguiríamos. Gosto de traduzir, o material é, o mais das vezes, interessante, e vou conseguindo ter vida familiar e social, pelo que não vou começar movimento algum, nem «sacudir» a APT.
O autor austríaco Thomas Bernhard diz que um livro seu vertido para outra língua deixa de ser dele. Porém, parece que só somos autores para as fichas da Biblioteca Nacional.

Minha senhora, como grande parte das pessoas ligadas ao mundo da edição em Portugal, não sabe fazer contas. No dia em que uma editora começar a pagar os direitos de autor aos autores e aos tradutores, fale. Mas também gostaria de saber se aceitaria a questão. Digamos que vou ter consigo e lhe proponho uma tradução... digamos... de um autor da Cavalo de Ferro, um Luigi Pirandello, um Horacio Quiroga, um Adolfo Bioy Casares, certamente autores que conhece. E digamos que lhe ofereço o pagamento de 6% sobre o preço de capa de cada exemplar vendido com contas feitas anualmente (ou pelo menos a 150 dias), um mês depois de nós editora termos recebido da distribuidora. Aceitaria? Não percebe que ganha mais dinheiro da forma como agora se paga? Claro que se eu publicasse o Harry Potter seria outra coisa.

Quanto mais reconhecimento nos derem, mais «vergonha» teremos de realizar um trabalho mau, não será? E de trabalhos maus estão todas as profissões cheias...
Para quando o nosso nome na capa, como (já) acontece para os ilustradores?

Quanto a isso só posso concordar. Claro que terá de convir que há livros que merecem essa disntinção e outros que não.

Se calhar no nosso novo projecto vou propor algo semelhante.
Obrigado pela sugestão.