[Continuação]
À medida que o workflow da produção se foi tornando cada vez mais baseado em ficheiros (file-based), os responsáveis pela produção ganharam progressiva consciência da necessidade de desenvolver métodos seguros e fiáveis para armazenar os seus ficheiros digitais. Outro factor contribuiu para que, no final da década de 1990, as casas editoras sentissem essa necessidade como imperiosa: a especulação sobre os e-books começava a ganhar uma aparente consistência e os e-book vendors começavam a bater à sua porta, procurando por conteúdos e, inclusivamente, estando dispostos a pagar o custo da conversão do impresso para o digital. Os editores perceberam rapidamente dois pontos: que os seus conteúdos eram um activo que podia ser explorado de diversos modos, e não apenas sob o formato tradicional de livro impresso; em segundo lugar, que esse conteúdo — os dados que eram o resultado do processo do workflow digital — eram um activo que necessitava de ser gerido. Como refere Mike Shatzkin, começam a proliferar as oportunidades para usar conteúdo digital: «Desde o sucesso do iPod que se observou que o dispositivo podia acolher ficheiros PDF e que o ecrã poderia ser duas vezes maior. Também o MySpace despertou o interesse dos editores pelas suas possibilidades no domínio do web marketing. E, embora nenhum modelo de negócio para o «e-conteúdo» tenha conseguido implantar-se no espaço do consumidor, ninguém se quer arriscar a perder o tempo certo para a mudança do impresso para o digital.» Por outro lado, verifica-se que há fórmulas a funcionar noutros contextos, como aluguer, assinatura ou pagamento por página visionada, bem como que o «papel electrónico» e dispositivos que o utilizam começam a surgir. Ora, «cada novo dispositivo de leitura pode, potencialmente, gerar um novo formato ou um novo desafio em termos de gestão de direitos digitais. […] É evidente que a própria gestão de conteúdo é, em grande medida, um novo território: diversos editores estão já a entregar ficheiros digitais aos seus impressores, embora ao nível mais simples (uma “imagem” de cada página). Assim, os editores viram-se forçados a gerir os seus metadados e a distribuí-los através da cadeia de abaste-cimento» (Shatzkin, 2007).
A chave estava em «tratar esses dados, e não os livros impressos que se encontravam no armazém, como um activo». Isto não significa que os livros não sejam um activo, mas os dados também o são e têm maior valor. Dependendo do formato em que os dados estavam arquivados, o editor «pode ser capaz de gerar novos fluxos de receitas através de, por exemplo, licenciamento do conteúdo para bibliotecas virtuais, e-book vendors ou outras partes interessadas. Assim, se os editores conseguissem desenvolver um modo seguro e confiável de armazenar os seus conteúdos num formato digital apropriado, teriam maior controlo sobre o seu activo nuclear (core asset) e seriam capazes de o tornar disponível de diversas maneiras, consoante as oportunidades que se apresentassem» (Thompson, 2005: 412). Assim, a tarefa de desenvolver um sistema integrado de gestão de conteúdos tornou-se decisiva.
Parece pacífico que a expressão «gestão de conteúdos digitais» (Digital Content Management, ou DCM) terá surgido no final dos anos 90 e que a tecnologia que requer começa agora a revelar suficiente amadurecimento para que os editores se interessem por ela e pelo modo como pode ser implementada. Para além das editoras, também as empresas de consultoria nesta área há já algum tempo começaram a introduzir este e outros conceitos nos seus documentos. Já vimos anteriormente que ele surge em 2003, no Relatório da PIRA International; mas também, por exemplo, a VISTA Computer Services iniciou uma nova série de reports sobre as tendências relacionadas com a gestão e exploração de activos editoriais (publishing assets), sob a designação genérica de Managing and Exploiting Publishing Assets, e a Klopotek tem trabalhado nesse sentido com a Rightscom (de Mark Bide) e a The Idea Logical Company (cujo CEO é Mike Shatzkin), tendo publicado o white paper «Digital Asset Distribution for Book Publishers: An emerging infrastructure».
Parece assim verificar-se um hype de oportunidade para todas as coisas «e», que deu origem a um debate alargado sobre como os editores, ou os detentores de conteúdo, poderiam beneficiar do mundo da edição electrónica: o termo genérico que veio a ser adaptado foi o de cross-media publishing — a produção de produtos multimédia para distribuição através de diversos canais para as emergentes populações de consumidores. A edição começaria a ser um processo em que múltiplos produtos seriam construídos, por vezes em simultâneo, maximizando o valor do mesmo conteúdo através da sua reutilização ou repurposing. Para isso, o conteúdo publicado necessitaria de ser desa-gregado em unidades granulares de texto, imagens e outros tipos de conteúdo, devendo depois ser armazenado, independentemente da sua apresentação em página impressa, de modo a potenciar a criação efectiva de novos produtos (Ryden, 2007: 3). As conferências dos Seybold Seminars constituíram um fórum de discussão sobre todas as questões relacionadas com a DCM, tendo-se defendido que esta forneceria o suporte para quatro perspectivas estratégicas:
› Potenciar o cross-media publishing;
› Controlar os activos nucleares;
› Garantir eficiência no workflow;
› Compreender e servir melhor os consumidores.
[Continua]
Retirado das páginas 234-237, capítulo 5, «Transformações no sector da edição de livros».
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quinta-feira, 5 de março de 2009
A Edição de Livros e a Gestão Estratégica - excertos da obra (IV)
Postado por Booktailors - Consultores Editoriais às 10:00
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