Pedro Vieira, que já comentara a situação da Byblos, com um desenho, deixou há cerca de 4h um texto sobre o mesmo assunto no seu blog Irmão Lúcia (bolds nossos):
«demorei muitos meses a escrever um post que tem estado latente, acerca da bymblos, nome mais apropriado à gestão de certa e determinada livraria que hoje cerrou portas, num quadro de insolvência, linguagem que ouso usar depois da esfrega de direito que tenho levado, contas de outro rosário, aliás, por agora fala-se do assunto do dia, do sonho que se transformou em pesadelo nas palavras do homem ao leme do titanic. como muitos sabem integrei a equipa inicial da bymblos, aliciado por um projecto de peso e uma boa mão cheia de euros a mais na carteira, que vieram a revelar-se hipotéticos, primeiro, fantasiosos, depois, grande quota parte da minha saída teve a ver precisamente com esse enfiar de barrete, coisa natural, costumo dizer até que a minha gestão de carreira é digna de um mário jardel mas com menos golos marcados. a estocada do dinheiro foi o corolário de um processo paranóico-crítico de quase quatro meses em que se foi ouvindo de tudo, fanfarronices acerca do projecto triunfante, da estante robotizada que foi funcionando aos coices, do sistema de localização rfid que fazia dos livreiros uma espécie de cobradores da carris obcecados pela leitura de códigos de barras, do processo de formação, coaching e acompanhamento on job (expressão vagamente ordinareca para espiolhice), evitem utilizar a palavra não, a palavra problema, cuidado onde põem as mãos, quando o empregado aparece com elas atrás das costas o cliente desconfia, afinal o coach sabia do que falava, havia muito para desconfiar dentro daquelas senão quatro, duzentas paredes, perpendiculares a espectaculares alcatifas e sofás, candeeiros curvos e bazófia. e livros, poucos. os trabalhos de montagem foram épicos, graças ao empenho de quatro dúzias de cordeiros bem instruídos, voluntariosos, que chegaram a fazer uma directa para ter a barraca mais ou menos composta para receber a doutora pires de lima, o doutor almeida santos, o senhor júlio isidro, naquele que foi um prenúncio do autêntico passeio dos alegres em que a bymblos se iria tornar. ou dos patetas, e reconheço que a carapuça também me serve. os sinais estavam todos lá, desde o processo de catalogação dos livros até à caução de 150 euros relativa ao uso da farda (um bonito pendant de azuis a lembrar a carreira 749, cortesia de katty xiomara), passando pelo atraso nos fornecimentos iniciais e posteriores por parte das distribuidoras, pelo mito dos 150.000 títulos, pela gestão balcânica dos pedidos de cliente, pela revista aos sacos dos trabalhadores da livraria por parte da empresa de segurança, ordens da administração, diziam eles. e eu, que nunca peguei num canhenho de recursos humanos a achar que não é por aqui que se conquistam muitos corações para a causa. e o dinheiro, claro. peguemos no dinheiro A, prometido nas entrevistas. comparemos com o dinheiro B, recebido no final de cada mês. não havia correlação. e então vieram as reuniões, por grupos, nas quais veio à baila um conceito muito lindo por parte de um responsável: quem quer bolota, trepa (sic). deve ser um conceito de gestão que também foi importado da alemanha, ou do brasil, ou de inglaterra, ou de um dos inúmeros locais onde a administração afirmava ter ido beber dos melhores exemplos em gestão de livrarias. por falar em beber, o encerramento da byblos não é para mim motivo de brinde, há muita gente por quem tenho estima que tem neste momento o horizonte cinzento pelo facto de não ter abandonado o barco mais cedo. eu bati com a porta no dia 29 de fevereiro deste ano e talvez por ser um dia raro no calendário acertei na decisão. uma vez na vida, caralho.»