quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Jorge Reis-Sá comenta a LeYa e a alteração de política de preços da FNAC

Para ler no blog do autor, aqui.

«É pública a minha discordância em relação a muitas das atitudes deste grupo editorial. (...) Não vejo nem a Bertelsmann, nem a Porto Editora, nem a Presença a fazerem um décimo dos erros, a terem, nem de longe, nem de perto, a mesma estranha postura. Porquê? Porque estão cá para fazer livros e com eles dinheiro. A Leya, não: está para fazer dinheiro.O que está a acontecer em relação aos livros escolares é disso exemplo. Tenho pena que as pessoas que, durante anos e anos, fizeram os livros da ASA, da Texto, etc, estejam a ver o seu nome indirectamente associado a erros de gestão.»

«Sim, a desculpa é deselegante para não dizer que quer fazer de nós burros. Acaba a Fnac com os 10% de desconto nos livros (ou indexa-os apenas aos detentores do cartão Fnac) porque isso é, agora, prática no mercado. E eu que achava que é exactamente ao contrário que costuma funcionar: quando toda a gente está a fazer nós temos é de fazer mais, não menos. Mas com uma quota de mercado tão grande, dá para fazer tudo. Mas desengane-se quem acha que estou contra. Não estou a favor, como é óbvio, mas aceito a mudança. Ela faz parte de uma alteração no paradigma de venda do livro do grupo Fnac. Há anos que em França a Fnac é, na livraria, um hipermercado Continente: livros de alta rotação, nada mais. Notoriamente assim se tornará em Portugal dentro em breve. A mim resta-me dizer que tenho pena que o capitalismo (ou melhor, a obrigatoriedade de crescimento anual dos lucros) acabe por hipotecar um projecto inovador e único. Porque raio não podem as empresas manter os lucros, quando são, como são, já tão altos? Porque têm elas de continuar a crescer? Mas tenho a certeza que para os lados da rua Professor Jorge de Silva Horta há atenção ao fenómeno. Só se forem lorpas, como chamava o meu tio-avô Crispim ao filho quando perdia mais uma vez à sueca, é que não percebem que o futuro da Bertrand passa por ser a livraria que a Fnac já não é e que a Bertrand nunca foi.»