terça-feira, 17 de junho de 2008

Lisboa revisitada

É este o título de um texto do (brasileiro) Daniel Piza do qual deixamos aqui alguns excertos. Para ler na totalidade aqui. Sublinhados nossos.

«...Somos, por sinal, menos formais e mal-humorados do que os portugueses em média, mas por isso mesmo se criou a noção de que somos únicos no planeta. É como se o Brasil ainda fosse a encarnação possível do império que dom Sebastião deixou escapar. Os portugueses são os primeiros a elogiar o “potencial” da gigante ex-colônia.

Isso se vê claramente no romance Rio das Flores, de Miguel Souza Tavares (Companhia das Letras), autor de Equador. Tavares, manipulador hábil de clichês do romance histórico (embora não capte a fala popular brasileira e insista em grafar São Paulo como “S. Paulo”), descreve dois irmãos que crescem no Alentejo sob um pai direitista e se dividem quando chega o Estado Novo de Salazar. Um deles, Diogo, vem ao Brasil tentar nova vida, se apaixona por uma mulata e, mesmo sob outro Estado Novo, o de Getúlio, se compraz na alegria sensual “que brotava das montanhas e florestas”... Até o vira-casaca de Getúlio na Segunda Guerra é elogiado.

Portugal consome em massa a música e a TV do Brasil. Ao mesmo tempo, conhece pouco a literatura brasileira, enquanto nós estudamos a portuguesa em nossas escolas, e se queixa do acordo ortográfico como se fosse um gesto imperialista às avessas. (O acordo não é quase nada. Tem coisas boas, como a extinção de alguns acentos que facilitaria o ensino, e ruins, como a incapacidade de admitir duas grafias para uma mesma palavra, como em inglês se faz com “theatre” e “theater”. Logo, sendo quase nada, não é necessário.) A dupla Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, em Os Brasileiros (Língua Geral), diz, sintomaticamente, “tu, português, não vales mais que ele, brasileiro”.