Em comentário a este post, o Luis Filipe Silva, escreveu um comentário que divulgamos aqui pela sua pertinência.
«De certa forma, embora talvez não com um carácter formal, a maioria da pop fiction americana está pejada de marcas e referências comerciais - ostensivamente para gerar identificação do leitor com o estilo de vida da personagem ou com a era, embora na maior parte dos casos esconda um uso pedestre da linguagem ou da capacidade de caracterização de personagens... Se algumas dessas referências são "patrocinadas" não faço ideia, embora nos casos de Crichton, Brown, Clancy e outros talvez fosse uma opção racional por parte dos departamentos de marketing das empresas... decerto que seria uma jogada inteligente ou pelo menos curiosa nas novelas em "installments", na qual cada fascículo poderia ser patrocinado por uma marca diferente. A questão é velha e decorre da associação nefasta entre o gratuito e a falta de qualidade na mente do público: a ficção distribuída assim correria o risco de ser contraproducente, ficando equacionada com "publicidade", algo que só um nome como Saramago ou Lobo Antunes poderia contrapor...
Parece-me no entanto que o modelo da distribuição gratuita do texto de ficção (e não falo aqui em livro enquanto objecto) poderá ajudar, e muito, autores pouco conhecidos e que não estejam na lista dos top 10 nem sequer do top 100. Refiro-me, entre outros assuntos, à disponibilização do texto publicado gratuitamente na internet ou em outros meios a par da publicação em livro. Um mecanismo que decerto não ajudaria as vendas de um autor sobejamente conhecido, poderia no entanto ser a faísca que despertaria o interesse dos leitores no caso de autores recentes ou esotéricos, à medida que os leitores (cada vez mais habituados a ler em ecrans e dispositivos móveis) fossem passando o livro de mãos em mãos, ou neste caso de email em email. O exemplo nacional de sucesso têm sido os blogues (O meu pipi, por exemplo), embora estes na maioria não tivessem nascido com a intenção de se tornarem em livro... É interessante ler e acompanhar a discussão promovida por, entre outros, Cory Doctorrow (cf: http://www.locusmag.com/Features/2008/05/cory-doctorow-think-like-dandelion.html), um dos grandes incentivadores da disseminação de textos sem mecanismos de protecção digital ("the information wants to be free" e esse tipo de coisas).
A ideia é que a ficção gratuita cria o marketing-de-boca e predispõe um número crescente de leitores a comprarem o próximo livro do autor, criando assim uma base sustentável de mercado.
Enquanto leitor, considero este processo vantajoso, em particular quando procuro autores de língua não inglesa cujas obras não se encontram facilmente disponíveis em Amazons... por exemplo, gostaria de mais autores brasileiros seguissem esta tendência, uma vez que apenas os mais vendáveis chegam às nossas livrarias, ficando pelo caminho muitos que serão bons mas menos famosos...
Enquanto autor, tenho tentado contribuir para este fenómeno, disponibilizando a minha ficção na internet, e inclusivamente o meu primeiro livro, no TecnoFantasia.com (amavelmente indicado no blogroll ao lado :), e devo indicar com uma experiência bastante positiva (mais de 1000 downloads desde a disponibilização no ano passado).»
segunda-feira, 12 de maio de 2008
Livros Gratuitos, por Luis Filipe Silva
Postado por Booktailors - Consultores Editoriais às 11:00
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