O texto, intitulado "A Redacção" foi publicado hoje no jornal 24 horas e pode ser lido aqui.
Alguns excertos:
«Fomos pesá-lo numa simples balança de cozinha – fazia-nos falta este elemento informativo: 900 gramas. Suspense, marketing, quantidade, peso... faltava só verificar o que em literatura parece ser perfeitamente secundário: a qualidade.
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Nenhuma simulação de exaltação, nenhuma garra, nenhuma inspiração; o que temos é uma morna descrição de gestos pouco cinematográficos, um descritivo meio jornalístico, longínquo ainda do despachado Hemingway.
E por falar em descritivo meio jornalístico, este romance, que nas palavras do próprio autor se deseja histórico, quando entra por esse caminho, regista um tom de Selecções do Reader’s Digest.
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Quanto às variantes descritivas de centros históricos, áreas urbanas, edifícios- chave, o tom é de prospecto turístico, onde não falta a curiosidade histórica, a anedota com personalidade internacional, a listagem de um menu, estilo: quando ir, como ir, onde ficar, o que e onde comer
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Criar personagens não se basta por um acumular de lugares-comuns, somando diferenças ilustrativas de tipos; há que não ser anacrónico na linguagem, nas exigências existenciais, nos enquadramentos territoriais. Se se pretende descrever uma mulher, convém olhar bem para elas, sob pena de se ser apenas grosseiro, quando se pretendia ser airoso. Para escrever um romance há que ser um “flâneur” e não um “poseur”. Ou seja: perder-se e não julgar-se, à partida, encontrado.
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Tudo o que MST disser sobre a sua própria escrita, o seu romance histórico é gratuito. Que o escreveu a pedido de muitas famílias, que passou três anos muito duros, quase dois a documentar-se e um fechado em casa a escrever, sem viajar:nada disto interessa a um leitor; nada disto interessa à literatura. É exactamente esta inversão de valores que faz de Rio das Flores uma obra menor, tão igual a um qualquer exercício de menino de escola semideitado de lado sobre o papel, trincando a língua num esforço de saliva e olhos estrábicos confluindo no bico da caneta. “Bela Redacção!”: diz o professor, relativizando o esforço e a idade do garoto.»