sábado, 26 de janeiro de 2008

O sector do livro em Portugal

Hoje, no Público, um artigo intitulado "Portugueses estão a comprar mais livros escolares e literários", de Alexandra Prado Coelho, sobre os resultados preliminares apresentados ontem (disponível online, mas sem link directo). Este estudo, da responsabilidade do Observatório de Actividades Culturais, está a ser liderado por José Soares Neves, contando com mais cinco colaboradores: Jorge Alves dos Santos, Maria João Lima, Samanta Velho, Emanuel Cameira, Daniela Gonçalves e Alexandra Vaz

Alguns excertos:

«O mercado do livro escolar e da literatura em Portugal está a crescer, e as exportações de livros para os países africanos de expressão portuguesa aumentaram de forma significativa em 2005.

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Para ajudar a perceber o peso que o negócio dos livros tem na economia, o estudo revela que em 2005 se atingiu um volume de negócios de 381 milhões de euros (0,5 por cento do total da actividade económica, uma percentagem que corresponde à média europeia). Um outro estudo, elaborado pela consultora espanhola DBK e apresentado no ano passado, dava números mais recentes: 530 milhões de euros de volume de negócios em 2006.

Um dos dados que chamam a atenção no estudo do OAC é o aumento do valor das vendas dos livros escolares e literatura entre 2000 e 2005. Se, em 2000, o valor das vendas de livros escolares era de 67 milhões de euros, em 2005 ele saltou para 91 milhões - e isto apesar de uma descida no preço médio dos livros vendidos, o que significa que se venderam realmente mais livros. O mesmo acontece com a literatura, que passa de 54 milhões em 2000 para 80 milhões em 2005, com o preço médio dos livros a manter-se sem grande alteração.

(...)

A grande maioria dos livros importados por Portugal vem da União Europeia (50 milhões de euros em 2005). Por outro lado, o principal destino de exportação dos livros produzidos em Portugal são os países africanos de expressão portuguesa (um total de vendas perto de 19 milhões de euros, em 2005, o que representa uma subida bastante significativa se compararmos com 2000, ou mesmo 2004, em torno dos oito milhões).

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As exportações só de livros portugueses para o mercado brasileiro sofreram uma quebra entre 2000 (3,5 milhões de euros) e 2005 (dois milhões).»

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Num outro artigo deste mesmo jornal intitulado "Entrada de capital financeiro é positiva", podemos ler que:
«A entrada de capital financeiro no sector da edição é vista como um aspecto positivo pelos profissionais ligados ao livro entrevistados para o estudo do Observatório das Actividades Culturais. Esta entrada aparece ligada à ideia de uma gestão mais moderna e profissional. Há, contudo, quem receie que os actuais movimentos de aquisições e fusões possam prejudicar as pequenas editoras. Mas os mais optimistas acreditam que estas até podem beneficiar se souberem explorar nichos de mercado e apresentar ofertas alternativas.»

« há, claro, aspectos negativos. A falta de conhecimento e formação profissional de algumas pessoas que trabalham na rede livreira é um deles e justifica-se em parte por uma excessiva rotação do pessoal. O crescimento das grandes cadeias e grandes superfícies é, por outro lado, apontado como uma das razões da debilidade da rede livreira tradicional.»

«Os responsáveis do sector mostram-se também preocupados com a fragilidade financeira dos editores de pequena e média dimensão, e com a dificuldade das pequenas editoras especializadas em determinados géneros - poesia, por exemplo - encontrarem pontos de venda. E este é um problema que se prende com o que alguns consideram ser a primazia conferida ao livro de alta rotação»

«Os defensores da internacionalização olham com expectativa para as potencialidades do mercado lusófono, em particular para os países africanos de expressão portuguesa»

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Também sobre este assunto aqui, no site da Rádio Renascença (Artigo de Cx/M.João Costa, "Mercado editorial em alta) :
«Em 2005, 69,3% dos livros editados foram escritos em língua portuguesa e apenas 30,7% traduzidos.

Quanto aos temas mais editados, ficamos a saber que a literatura é o estilo mais publicado entre 2000 e 2005, seguido das ciências sociais e do item das generalidades que contempla tudo, incluindo os jornais. Só depois surgem a arte e o entretenimento.

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José Neves, responsável pelo estudo do Observatório das Actividades Culturais, explica que “os títulos que têm sucesso acabam por custear as edições que não têm lucro ou que se pagam a si mesmas. O mercado funciona mesmo assim”.No estudo, são ainda sublinhados aspectos negativos como as elevadas margens cobradas pelas distribuidoras às editoras, o que se reflecte no preço ao leitor ou a debilidade da rede livreira portuguesa, muito por causa do crescimento das grandes superfícies.»

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O Diário Digital também deu destaque a este assunto:
«O volume de negócios do sector do livro em Portugal atingiu 381 milhões de euros em 2005, segundo um estudo hoje divulgado, valor que terá subido para 530 milhões no ano seguinte.

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É um valor baixo comparado com Espanha [que registou no mesmo período 3.064,6 milhões de euros] mas a percentagem da presença do livro na indústria transformadora está na média europeia [0,5 por cento]», disse à agência Lusa o responsável pelo estudo, José Soares Neves.

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Numa primeira fase, no primeiro semestre de 2007, a equipa realizou entrevistas a diversos agentes do sector e numa segunda fase, ao longo deste ano, serão realizados os inquéritos por carta e e-mail para apurar as suas dimensões em relação ao mercado, novas tecnologias, estrutura da indústria, estruturas organizacionais, carreiras ocupacionais e políticas culturais

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Para realizar o estudo, a equipa tem usado como fontes dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), nomeadamente sobre o livro e a edição, dados sobre depósito legal da Biblioteca Nacional (BN), do ISBN (International Standard Book Number), relativo à edição, da DGLB e da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) e União de Editores Portugueses (UEP) sobre editoras e livrarias, bem como da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) sobre direito de autor

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A equipa apurou ainda que as despesas dos municípios portugueses com a cultura atingiram 527 milhões de euros em 2005, sendo que 72 milhões foram gastos em despesas com publicações e livros, 53 milhões de euros com as bibliotecas (inclui despesas com livros), e mais cinco milhões de euros aplicados na edição e aquisição de livros»