Uma interessante reportagem feita pela agência Lusa, que pode ser lida no Diário Digital. A peça tem como título "Conceito de livraria está a mudar em Portugal".
O conceito de livraria está a mudar em Portugal, com o predomínio das grandes cadeias e o desaparecimento das livrarias independentes, por imposição dos centros comerciais, argumentam livreiros contactados pela agência Lusa.
Em vésperas da abertura da Byblos, considerada a maior do país, três livreiros portugueses dizem que o conceito de livraria está em mudança, desde que a cadeia francesa FNAC entrou em Portugal em 1998, mas têm ideias diferentes sobre o futuro destes espaços.
José Pinho, um dos sócios da livraria Ler Devagar, em Lisboa, é da opinião que a maior mudança ocorrida nas livrarias foi a deslocação das livrarias de rua para os centros comerciais, muitas delas ligadas a cadeias livreiras.
«Nos outros países continuam a existir livrarias independentes e a sobreviver, mas em Portugal as coisas são bastante diferentes», disse José Pinho, referindo que a sobrevivência passa pela ligação a editoras ou grandes grupos.
A Bertrand, por exemplo, tem actualmente 52 lojas, das quais apenas sete não estão localizadas em centros comerciais, e prevê abrir em 2008 mais cinco, todas elas em grandes superfícies, disse à Lusa a directora de marketing daquela cadeia livreira, Teresa Figueiredo.
«Os centros comerciais têm mais potencial de negócio, é onde há mais tráfego, embora haja zonas de rua interessantes», referiu a responsável, dizendo que a loja Bertrand do Centro Comercial Vasco da Gama, em Lisboa, é a mais rentável.
A primeira FNAC que abriu em Portugal está localizada no Centro Comercial Colombo, em Lisboa, e é a mais rentável em toda a cadeia mundial da FNAC.
Ofereceu um conceito que não existia até então: atendimento personalizado, espaços com algum conforto e vários produtos de cultura e entretenimento, entre livros, CD, computadores portáteis, telemóveis, material fotográfico e outros equipamentos técnicos.
No entanto, do volume total de vendas da loja FNAC em Portugal em 2006, apenas 21 por cento dizia respeito aos livros.
José Pinho, que pertence à Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, estima que existam em Portugal perto de quatrocentas livrarias e a sua distribuição tem acompanhado o aparecimento de novos centros comerciais.
Com a introdução de livros nos hipermercados, ao lado de bens de primeira necessidade, e com a abertura de livrarias em grandes espaços comerciais, os hábitos dos portugueses também mudaram, argumentou, por seu turno o livreiro José Tavares, que acaba de abrir a livraria Círculo das Letras, em Lisboa.
Por isso, é preciso convencer os potenciais compradores e leitores, oferecendo um espaço «de afectos, encontros e debates», defendeu o responsável desta livraria generalista de rua, com pouco mais de 200 metros quadrados.
«Temos uma pequena galeria e um auditório e vamos apostar na realização de eventos. É preciso que as livrarias se adaptem às mudanças e se abram à comunidade ou terão muita dificuldade em resistir», disse.
Para cativar os potenciais compradores, são vários os argumentos usados pelas livrarias, como a inclusão de uma cafetaria, sofás ou uma agenda de eventos culturais.
A Bertrand, que está a celebrar 275 anos de existência, acaba de lançar uma iniciativa que oferece aos clientes um jantar com o seu escritor favorito.
«O livro em si não chega, porque há muita concorrência dentro da própria área da cultura e entretenimento, e é preciso reinventar o negócio e trazer alguma excitação», defendeu Teresa Figueiredo, da Bertrand.
Américo Areal, proprietário da livraria Byblos, acredita que em Portugal todas as livrarias têm o seu espaço e lugar, e que o livro está a ganhar mais importância.
«Cada vez mais há locais onde aparecem livros à venda, como as gasolineiras, os CTT, os aeroportos. Mas não basta ter dinheiro, é preciso ter muita dedicação e é aí que vamos querer fazer a diferença», avisou o fundador da Byblos.
Esta livraria, considerada a maior do país com 150 mil títulos disponíveis, inaugurará um novo conceito de loja já que será a única no mundo com um sistema de identificação e pesquisa de livros que recorre a uma tecnologia de radiofrequência.
Apesar da «concorrência feroz», como descreve o livreiro José Tavares, ainda há quem arrisque em abrir uma livraria que não tenha apenas os êxitos de vendas.
Foi o que fizeram Catarina e Ricardo, dois jovens com menos de trinta anos, que acabam de inaugurar a livraria Trama, em Lisboa, próximo do Rato, um espaço com 140 metros quadrados.
A livraria não está ligada a nenhuma editora, é generalista, mas mais direccionada para fundos de catálogo, e inclui uma pequena máquina de café e um espaço para as pessoas se sentarem.
«Vamos ter desde o Harry Potter ao Rimbaud», disse Catarina Barros à agência Lusa, referindo que a livraria era um sonho antigo agora concretizado.
«Nos últimos anos a tendência foi para a abertura de livrarias mega, mas há espaço para as mais pequenas», disse a livreira.
«Sabemos que não vamos vender muito, mas queremos que as pessoas saiam daqui felizes», sublinhou.
Afinal, seja a livraria grande ou pequena, «há alguém que não goste de ser bem tratado e de viver uma boa experiência?», pergunta Américo Areal.
Diário Digital / Lusa