quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Edição em Desassossego (2)

Voltamos, então, à sessão da passada quarta-feira na Casa Fernando Pessoa, sob o tema da Concentração Editorial.

Uma dos temas abordados nessa sessão foi o papel do editor nas novas estruturas.

Tendo sido referido pelos respectivos CEO’s dos grupos representados que os editores das empresas compradas iriam manter as suas função «como anteriormente», a verdade parecia ser sempre diferente vista à luz dos respectivos interlocutores.

Se, por um lado, é referida a pretensão de manter as linhas editoriais e o processo de escolha de programação, por outro, é referida a necessidade de uma maior segmentação de cada uma das editoras (Isaías Teixeira Gomes), o que significa que não poderá permitir que as editoras actuais se desposicionem da forma como o têm vindo a fazer.
Igualmente, é referida a alteração do processo de edição executiva, que passa a ser partilhada entre o editor e um «gestor de marca», alguém cuja especialidade é observar à luz das necessidades e objectivos da empresa a validade das escolhas editoriais.

Face a isto, o processo de decisão do editor fica subalternizado e dependente de uma co-avaliação, o que levará, na melhor das hipóteses, somente à manutenção da parte mais importante para o grupo da linha editorial anterior.

Francisco Vale também referiu um facto importante, que deriva de muitos dos projectos anteriores (referia-se em particular à Teorema) terem por detrás um espírito de projecto pessoal que leva a uma maior entrega e comprometimento nas escolhas. De facto, Francisco Vale colocava a questão: «será que um editor que vendeu a sua empresa e que agora irá executar a mesma função para outros, [tendo de cumprir os objectivos dos outros,] irá conseguir ter a mesma entrega e capacidade de arriscar?» De facto, não passará esse editor a ser somente alguém que tentará manter uma linha anterior, uma gestão editorial operacional?

João Rodrigues acrescentava o facto de muitos editores que ele conhece – mormente em Espanha, segundo disse – que entraram nesse processo acabaram por ter de abandonar os seus anteriores projectos, pois não tinha sido possível manter a mesma liberdade de escolha, tendo sempre havido um ponto de ruptura onde o representante do detentor do capital (gestor) acabava por sair como vencedor.
Nelson de Matos, apesar de ter estado presente e para pena de todos, absteve-se de comentar o tema – apesar de já o ter vindo a fazer publicamente em algumas ocasiões.

Face a estas questões não foram apresentados muitos argumentos em contrário, tendo o mercado e os editores que passaram a estar nessa situação de esperar para ver.

(a continuar)