quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Caso «Bertrand»


A Bertrand abriu as suas portas em 1732. Nome incontornável do negócio do livro em Portugal, foi recentemente adquirida pelo grupo Bertelsmanns, nome igualmente incontornável na edição mundial. Mas mais do que pela sua importância histórica, a Bertrand tem vindo a ser notícia por querer fazer história junto daqueles que são os seus principais parceiros.

A Bertrand, conforme é do conhecimento público, decidiu recentemente alterar as condições de relacionamento comercial com os editores, avançando para esmagar ainda mais as já magras margens dos editores.
Tendo uma posição muito elevada no retalho livreiro, consideramos que a Bertrand devia assumir uma posição de responsabilidade no mercado e na sociedade portuguesa, definindo os seus objectivos com a comunidade (editores e leitores).
Perante isso, a postura actual da Bertrand é não é aceitável e afecta profundamente a forma como se quer que evolua o mercado do livro em Portugal, mostra uma falta de consideração por quem deles depende e revela um desrespeito até então não observado no nosso mercado.

Parece-nos que a atitude actual deles é incorrecta porque:
- Os objectivos a que a Bertrand se encontra sujeita não devem ser atingidos à custa dos seus principais parceiros de negócio;

- Foi tomada de forma absolutamente unilateral, sem qualquer sensibilização ou consulta dos parceiros;

- Não mostram saber viver em regime de parceria, ao utilizarem diariamente estratégias leoninas e que tantas vezes prejudica as estratégias de crescimento das editoras;

- Cremos que clientes e fornecedores conquistam-se, não se espezinham (que as relações comerciais se regem por boas práticas onde todos temos a ganhar, do autor ao consumidor);

-Desrespeitam os seus consumidores, na medida em que não oferecerem aos seus clientes os produtos de que eles necessitam, enquanto os editores não cederam.

Da nossa parte, enviamos desde já a nossa solidariedade a todas as editoras que decidiram não aceitar esta iniciativa levada a cabo pela Bertrand. Não só aquelas que possam ter canais próprios, e que não se encontram dependentes da Bertrand, mas também, e sobretudo, a todas aquelas para quem a Bertrand possa representar uma importante fatia na facturação e cuja atitude prejudica profundamente a viabilidade dos seus projectos e os salários dos seus trabalhadores.

Mostrem à Bertrand que o ponto mais fraco deles é a vossa força: eles dependem de vocês, editores. Precisam dos produtos das editoras, precisam que lhes «comprem as montras», os topos e os escaparates. Façam sentir-lhes na pele a frustração e descontentamento dos leitores não encontrarem os seus livros preferidos (os vossos livros) nos escaparates deles e informem os vossos leitores em que outros locais os poderão encontrar. Recordem-se que, apesar da abertura constante de novos espaços, o custo actual com a sua rede é de tal forma elevada que eles necessitam de vocês e dos vossos produtos de alta rotatividade.
Mostrem que eles também têm concorrência e que vocês podem optar por outros espaços de venda, provem-lhes que sem eles, a capacidade de crescimento dos concorrentes aumenta.

Se, enquanto consultora editorial, pouco podemos fazer; enquanto consumidores dizemos: Não. Não compramos livros na Bertrand. Gastamos o nosso dinheiro com livreiros que prestam um bom serviço, que respeitam as nossas necessidades e que merecem o nosso dinheiro.
Podemos ser apenas um pequeno grupo de pessoas que gosta de livros e que quer continuar a ter a possibilidade de ler bons livros. Mas somos consumidores e conhecemos outros consumidores.

Porque desrespeitam os autores, os editores, os distribuidores, os restantes livreiros e os leitores, nós recusamo-nos a comprar na rede Bertrand.

E vocês?