quarta-feira, 21 de maio de 2008

Feira do Livro e APEL (Opinião de Ruben de Carvalho)

Ruben de Carvalho publicou no 1º caderno do jornal expresso, p.44,17.05.2008, um artigo de opinião sobre a Feira do Livro, intitulado "Por mim, quero ir à feira!". Sobre a feira do Livro de Lisboa ou sobre a APEL, não dá para perceber bem...


«...a Feira ligou-se intimamente à Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, a APEL. Ora, não pode deixar de se apontar que a APEL é uma organização com traços originais, apenas compreensíveis quando se recorda que reflecte a realidade criada pelo salazarismo e o seu genético obscurantismo cultural.
É fácil depreender ser relativamente estranho que surjam associados numa mesma estrutura entidades que, lidando embora com a mesma realidade, com o mesmo produto – o livro – não têm em relação a ele exactamente os mesmos interesses. (...)

O facto da APEL se ter constituído releva da herança política e cultural do salazarismo: por um lado, alguma herança (mais que não fosse orgânica) do quadro legal fascista e da mistificação corporativa – os grémios – tentando iludir as contradições que inevitavelmente atravessam as sociedades; por outro, e mais importante exactamente o facto de à época editores e livreiros terem um adversário comum - a repressão censória, a apreensão, a perseguição policial - que criou, como em tantas outras áreas da sociedade portuguesa, a evidência de que acabava sendo mais importante quanto os identificava do que quanto os separava. E tal evidência ainda mais floriu com os cravos de Abril.

Decorridas três décadas, naturalmente que lógicas diferenças de interesses se vieram a revelar ou avolumar, o que acabou por dar origem ao surgimento de nova organização associando exclusivamente editores, enquanto se manteve a APEL, procurando manter a postura de conjugar interesses e tradições nas actividades dignificadas pela comum ligação ao livro.
Das técnicas gráficas à entrada de grandes capitais na produção e na distribuição livreira, foram entretanto enormes as modificações. E, previsivelmente, agravaram-se contradições não apenas entre os protagonistas, mas em geral. Para muitos dos seus participantes, a Feira do Livro de Lisboa tem visto diminuir a sua antiga relevância económica e não podem ser ignoradas as já antigas advertências de que alguma coisa tinha de mudar face à perda de eficácia dos generosos critérios de organização e funcionamento.»

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