segunda-feira, 26 de abril de 2010

Entrevista a José Afonso Furtado no ContraFactos & Argumentos

«P - Como analisa a evolução dos leitores de livros electrónicos (e-readers) nos últimos anos - são aparelhos que tendem a substituir os livros em papel ou ainda se está longe desse cenário?
R - Julgo que a evolução mais significativa consistiu no aparecimento de dispositivos utilizando as tecnologias e-paper e e-ink. É isso que marca o início da segunda geração de e-readers, depois do fracasso das primeiras tentativas em 1998/9 com o aparecimento do Rocket eBook e outros aparelhos que se lhe seguiram. Contudo, se resolveram algumas questões referentes à qualidade da tecnologia e ergonomia, continuam a subsistir uma série de questões que não facilitam a criação de um mercado expressivo (com excepção de segmentos muitos específicos, baseados em "chunked content"). Muito resumidamente: ausência de standards e portanto de soluções de interoperabilidade e compatibilidade; uma filosofia de lock-in baseada em formatos proprietários (o caso do Kindle é exemplar); insistência em mecanismos de DRM [gestão de direitos digitais] e, mais ainda, proprietários, dificultando duplamente a circulação das obras; necessidade de suporte para metadados desenvolvidos: por exemplo, o EPUB 2.0.1 não prevê soluções para articulação com standards como ONIX; ferramentas de navegação e de interactividade muito rudimentares; ausência de mecanismos que permitam conservar e reutilizar (de modo independente da obra ou não) o resultado das acções de um utilizador sobre um texto (bookmarks, anotações…); incapacidade de suportar workflow em que uma especificação como o PRISM (Publishing Requirements for Industry Standard Metadata), utilizado pela indústria das publicações periódicas para intercâmbio e arquivo de conteúdo digital ao nível da sua unidade nuclear, o artigo; carência de um suporte específico para os elementos paratextuais ligados aos textos base; por fim, como refere Joaquín Rodríguez, a resolução de algumas destas questões arrisca-se a acontecer no âmbito de linguagens e plataformas proprietárias, de integração vertical entre conteúdos, plataforma de distribuição e dispositivo de leitura, da dissolução progressiva do conceito de propriedade e de gestão da nossa memória colectiva. Mas o meu ponto principal é a dúvida persistente se, ao invés, em vez de uma solução de substituição do impresso pelo digital, não caminhamos antes para uma tendência de Gestão de Conteúdos Digitais que possibilitam estratégias de edição cross-platform e cross channel, em que o leitor decide o conteúdo a consumir e em que canal e suporte, adequada a uma época que se pode caracterizar como de “lean consumption”.» Ler a entrevista a José Afonso Furtado no blogue ContraFactos & Argumentos.