segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Opinião: Um jogo entre linhas - resto do mundo, por Paulo Ferreira

N.E.: Texto originalmente publicado na revista LER, de Dezembro de 2009.

UM JOGO ENTRE LINHAS - RESTO DO MUNDO,
por Paulo Ferreira (*)

[Selecção Nacional]

Philip Roth
Capitão de equipa, é a voz de comando. Trabalhador, consistente e competente, com muitos jogos nas pernas, já recebeu praticamente todos os prémios que há para ganhar. Menos aquele que lhe continuam a negar, ano após ano, a cada Outono que passa.

Guillermo Cabrera Infante
Obra imaculada, protagonizou uma das transferências da época, ao trocar a sua editora de sempre em Portugal pela Quetzal. Os inéditos continuam a suceder-se, como legado à mulher, numa comovente prova de amor – uma herança que ela pudesse rentabilizar. Seja feita a sua vontade.

Italo Calvino
Valor seguro, com muitas provas dadas, tem ainda muitos trunfos por traduzir em livro. Com a nova imagem, defraudou alguns fãs.

Gabriel García Márquez
Continua seguro de si. Já não corre como dantes, mas continua a ser uma mais-valia na equipa (Dom Quixote).

Herta Müller
Chegou sem ser anunciada, e não foi sequer contratada para titular. Mas convenceu o treinador, sendo agora um trunfo pelas equipas em que alinha (Cotovia e Difel). Esperam-se mais edições desta (des)conhecida autora.

Dan Brown
Foi a estrela da equipa (Bertrand) para este final de ano. Lesionado durante cerca de cinco anos, não foi por causa disso que deixou de marcar golos. Resta perceber se continuará ao mesmo nível.

Thomas Mann
Pela primeira vez em tradução directa do alemão, foi uma das grandes apostas do ano. Apesar de reconhecido, foram notórias, durante anos, as dificuldades de transposição da sua prosa para a nossa língua – problema apenas sanado este ano, pelas mãos de Gilda Lopes Encarnação.

Stieg Larsson
Chegou ao mercado português com boas referências e fama de goleador. Ainda não se impôs da forma que o fez em campeonatos mais competitivos. Tem tempo para se consolidar.

Kindle
É um médio moderno que joga para toda a equipa, representando uma posição nova no miolo do terreno. Dele esperam-se sempre novas estratégias para resolver os problemas de sempre. Ainda tem muito para dar.

Stephenie Meyer
É o grande pulmão da selecção de estrangeiros. Um verdadeiro «n.º 10», joga e faz jogar, levando atrás de si toda uma série de fast followers. Este ano, a palavra mais ouvida, a par de «crise», foi «vampiros». Afinal, que editores poderão dizer que deste sangue não beberão?

Roberto Bolaño
Verdadeiro ponta-de-lança. Já fora utilizado no campeonato, mas na posição errada. Chegou, viu e venceu. 2666 poderia ser o número de golos que marcou, mas, na verdade, são já 23 000, o número de exemplares vendidos em dois meses para mais de 1000 páginas de livro. É obra.

Suplentes
Paolo Giordano: é um jovem com uma larga margem de progressão. Para já, com A Solidão dos Números Primos, alinhando pela Bertrand, atingiu as quatro edições.

Equipa técnica
Carlos da Veiga Ferreira (treinador): com uma equipa ímpar, desperdiça muitas vezes alguns talentos, por não os tratar bem. Falha no plano técnico.
Luís Oliveira (treinador-adjunto): familiarizado com o mercado internacional, tem-se esforçado por trazer a melhor técnica possível para o campeonato português. Dele apenas se poderá esperar o que é fundamental. Da velha guarda, defende que os jogadores não devem ser apenas bons – têm de ser igualmente bonitos, de aspecto cuidado.
Andrew «Chacal» Wyllie (preparador físico): ninguém como ele é capaz de consolidar valores e recuperar um jogador perdido, colocando-o na equipa correcta. Bolaño é apenas um dos mais recentes exemplos. Diz-se que outros se seguirão. É igualmente um olheiro de sonho.

(*) Paulo Ferreira é consultor editorial na Booktailors, da qual é um dos fundadores. Com a pós-graduação em Edição: Livros e Suportes Digitais da Universidade Católica Portuguesa, co-lecciona actualmente no mestrado de Edição da Universidade de Aveiro a cadeira de Marketing do Livro.
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