quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Correntes D’Escritas – 1.ª Mesa: «Escrevo para desiludir com mérito»

Catherine Dumas moderou a primeira mesa de debate do Correntes D'Escritas. Parte de uma frase de Agustina Bessa-Luís serviu de mote à discussão: «Escrevo para desiludir com mérito.» Seis dos sete escritores que participaram no debate estavam pela primeira vez no certame.

A discussão começou por ordem alfabética. Ana Luísa Amaral foi a primeira, fazendo mais perguntas do que apresentando respostas. Ficou-se pela dúvidas: «A frase é toda ela feita de possibilidades», cabendo ao escritor a desilusão ou a ilusão. Seguiu-se Eduardo Pitta, que, de início, achou o tema da mesa uma «frase infeliz», sendo que só no dia soube que era da autoria de Agustina. «Só podia ser dela», afirmou, adiantando que «sempre que escrevemos estamos a desiludir até a nós próprios e seguramente os que estão à nossa volta. A escrita é sempre uma desilusão, mesmo para quem faz». Fernando J. B. Martinho contextualizou a frase da autora, contando que foi em resposta à pergunta «Porque escreve?» que Agustina respondeu: «Escrevo para desiludir com mérito, que é a maneira de se fazer lembrar com virtude.» À mesma pergunta, o autor respondeu apenas: «Não se sabe exactamente.» Francisco Moita Flores partilhou algumas histórias das suas primeiras leituras, quando lia os livros proibidos que o pai comprava, disfarçando-os, forrando as capas com jornais. O actual presidente da Câmara Municipal de Santarém contou ainda como passou de leitor a escritor, como ficou surpreendido pelo facto de os críticos descobrirem coisas na sua escrita que ele próprio não via, e como o importante para um escritor deve ser a preocupação em ser fiel a si mesmo. Gilda Nunes Barata voltou ao tema, tentando desconstruí-lo ao comparar a escrita ao nascimento: «O corte do cordão umbilical é desilusão.» Na sua opinião, a desilusão tem sempre duas direcções, de «desiludir, voltar a desiludir». Para o final, ficou Zuenir Ventura, lamentando o facto de ter que ser o último, dado o seu nome começar por Z. Zuenir Ventura abordou com humor o tema, dizendo que ele escreve «para iludir com mérito». O autor e jornalista brasileiro explicou que nunca pensou em seguir a escrita, mas que não consegue «viver sem fazer outra coisa».

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