sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Opinião: Vale a pena publicar?, por Nuno Seabra Lopes

VALE A PENA PUBLICAR?
por Nuno Seabra Lopes (*)

Quantas são as vezes em que um editor se confronta com esta questão? Quem trabalha diariamente entre provas e manuscritos, sabe que esta é uma pergunta constante do trabalho de editor. Semanalmente, chegam-lhe obras em avaliação, e a pergunta insinua-se: vale a pena publicar? Na resposta a dar, têm-se envolvido cada vez mais pessoas, os comerciais e o departamento de marketing, a administração e um conjunto de outras personagens, que têm respostas mais ou menos pensadas de acordo com a sua visão dos livros e com as suas necessidades de trabalho. Mas que visões são essas?

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Valer a pena publicar foi sempre uma decisão difícil, uma decisão editorial que é sinónimo de investimento num livro em detrimento de outro. O resultado final corresponde à nossa produção, logo, àquilo que ditará o sucesso, financeiro ou de outro tipo, da editora e do editor.

Independentemente do facto de a decisão respeitar, por vezes, critérios diferenciados, dos mais culturais e pessoais até questões de posicionamento ou de comunicação, o factor mais comum nas principais empresas do ramo editorial é a capacidade de determinado título gerar dinheiro. Como empresas que são, é vital que os livros dêem dinheiro para poderem sobreviver, pagar salários e ter lucro.

Essa análise da obra – que considera a capacidade de um livro gerar dinheiro – é já feita, muitas vezes e nas principais estruturas, com base numa avaliação que ultrapassa o produto e o editor. As velhas interrogações do editor («existe mercado para este livro?», «será que há gente suficiente para o comprar?») são restritivas e insuficientes para os dias de hoje. Daí que as editoras pensem já para além dos seus livros e tenham em atenção tanto o mercado quanto as suas vantagens competitivas face à concorrência.

Em relação ao produto, se considerarem que é bom, verão também se o conseguem produzir com um custo tão baixo ou com uma margem semelhante à da concorrência. Se fazem algo barato, procuram averiguar se, na concorrência, existe outro produto mais adequado, e por aí em diante. Isto é, avaliam o livro de forma global, olhando para além dele próprio e comparando-o com o que existe no mercado.

Como em todos os mercados, este funciona também em concorrência, e os nossos produtos – por mais únicos e individuais que julguemos que sejam – têm de vingar num mercado onde outros cumprem as mesmas motivações e têm como destinatário o mesmo público final. Ou seja, são observados na sua adequação para a mesma função, face ao mesmo preço.

Hoje em dia, valer a pena publicar tem menos a ver com o livro do que connosco: os nossos recursos, a adaptação e a experiência da nossa estrutura, a nossa capacidade comercial, o valor da nossa marca, etc. Valer a pena publicar é uma questão que vai para além do mero palpite, e muitas editoras sabem-no já, pois especializam-se e criam enfoques, direccionam marcas e procuram criar a sua estrutura apostando somente nos elos que lhes dão riqueza.

Daí que, hoje em dia, tantas pessoas se envolvam na decisão de publicação de uma editora, porque editar já não é só uma função do editor.

(*) Nuno Seabra Lopes é licenciado em Estudos Europeus, tem Especialização para Técnicos Editoriais e Mestrado em Estudos Editoriais. Trabalha desde 1999 no sector da edição, sendo Especialista Convidado do Curso de Especialização para Técnicos Editoriais da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É sócio-fundador da Booktailors e consultor editorial especializado nas áreas da Edição e de Estratégia.
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