segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Opinião: As lições dos livros escolares, por Paulo Ferreira

AS LIÇÕES DOS LIVROS ESCOLARES,
por Paulo Ferreira (*)

Confundindo-se dimensão com facilitismo, considera-se muitas vezes que os sectores escolar e paraescolar são de capital e retorno garantidos. Contudo, esquece-se que, acompanhado das boas perspectivas de negócio, vem igualmente um risco muito elevado, que transforma esta área num verdadeiro case study de método e rigor no sector editorial.

As diferenças entre os segmentos escolar e paraescolar e as edições gerais são abissais e começam, desde logo, pelos preparativos e recursos que é necessário agrupar, não só pela longa equipa que envolvem (coordenadores editoriais, autores, designers, paginadores, infografistas, ilustradores, fotógrafos, aquisição de direitos de imagem, etc.), como pela diversidade de suportes produzidos (manuais, livro do professor, suportes multimédia). O carácter prescritivo destes suportes leva, pois, as editoras a fazer autênticas maratonas de norte a sul do país, reunindo em hotéis e noutros locais com professores, em encontros para os quais é necessário produzir maquetas de materiais diversos. Mas se os materiais são maquetas – algumas delas, como os próprios manuais, muito próximas do resultado final –, os custos associados a essa promoção não o são.

O futuro de seis anos (período normal de vigência para este tipo de livros), anulando-se desta forma críticas de que os livros «não servem para anos seguintes», joga-se, assim, nessas apresentações de poucas horas, mas também ao longo de todo o ano, com um subtil jogo de sedução junto dos prescritores, aos quais se tenta mostrar, de forma indubitável, que aquele é «o» manual, que aquele é «o» parceiro com que os professores podem contar ao longo do ano. Para isso, promovem-se acções de formação e esclarecimento sobre as mais variadas áreas (TLEBS, Novo Acordo Ortográfico, novos programas), entre outras iniciativas, e estabelecem-se canais estreitos de comunicação para tentar estar um passo adiante das necessidades vividas nas escolas.

A concorrência é feroz e os agentes em causa são, muitas vezes, gigantes, o que leva a que existam no mercado dois grandes players, que têm em comum o facto de mais de metade da respectiva facturação provir desta área de negócio: o grupo Porto Editora (que inclui igualmente a Areal e a Lisboa Editora), detendo mais de 50% dos segmentos escolar e paraescolar; e o grupo LeYa (Texto Editores, Sebenta, Nova Gaia, Asa, Gailivro). De fora desse núcleo, que, por maioria de razão, agrega a esmagadora maioria da quota disponível, encontram-se nomes históricos como o grupo Editorial Plátano (que inclui a Didáctica e a Paralelo), o Grupo Santillana/Constância, a Editora Educação Nacional e outros actores de menor dimensão.

As políticas de educação têm sofrido constantes alterações, obrigando não só os professores mas também as próprias editoras a adaptarem-se, não sendo de menosprezar que, neste momento, se torna necessário o agréement por parte do Ministério da Educação para que um livro seja considerado elegível para adopção.

Tudo isto requer das editoras grande capacidade de resposta e, sobretudo, de investimento, pois os adiantamentos são de deixar o editor a pensar duas vezes, às vezes mais, sobre o caminho a seguir. Como já ouvimos dizer, a edição escolar não é «para meninos». Claro que, sendo um negócio de risco, os possíveis retornos são também muito elevados. Mas, se é assim tão fácil, por que razão não há mais editores a arriscar?

(*) Paulo Ferreira é consultor editorial na Booktailors, da qual é um dos fundadores. Com a Pós-Graduação em Edição: Livros e Suportes Digitais da Universidade Católica Portuguesa, co-lecciona actualmente no mestrado de Edição da Universidade de Aveiro a cadeira de Marketing do Livro.
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