RÓTULOS NA EDIÇÃO,
por Inês Mourão (*)
Se, já há quase meio século, as condicionantes da imagem se impunham ao mundo, formatavam gentes, conceitos e ideias, desde então que o consumo de estereótipos se tem aplicado a quase todas as áreas, e a edição é uma delas. No mundo dos livros, os rótulos também existem, e a imagem que daí resulta marca a diferença entre uma obra bem-sucedida e a sua projecção na comunicação social, assim como junto do grande público. Das várias tipologias a que a literatura está sujeita, encontramos o autor que já publicou e o que publica pela primeira vez. A diferença é abismal, uma espécie de passaporte para identificar um produto que vai vingar ou não. O círculo é vicioso: se não é conhecido, não entra no circuito; se não entra no circuito, não é conhecido. Autores e editores estão dependentes do mercado e da comunicação social. «É uma cara que não seja preciso legendar?», critério à cabeça para um dos jornais diários mais populares do país. «É bestseller?», avança uma importante news magazine. Resposta: «Sim, no Brasil.» «Quando for em Portugal, voltamos a falar.» Dentro do rótulo do autor que publica pela primeira vez, distinguem-se os autores que arrecadaram prémios, distinções ou que já têm reconhecimento público. Estes galardões representam o ás do baralho para as editoras, que se fazem valer da carta mais alta para comunicar o autor estreante. Contudo, por vezes, se o prémio não se assemelhar a um Nobel ou um Pulitzer, o interesse manifestado pela imprensa reveste-se de aparente indiferença. Temos o caso bem português do prémio Máxima, já presente há mais de 15 anos em Portugal. Mesmo vencendo na principal categoria – Máxima Literatura –, o reflexo noticioso de determinado escritor na comunicação social não ultrapassa os dedos de uma mão. Quanto aos prémios locais ou de dimensão secundária, ainda que façam sobressair a qualidade do manuscrito, valem para uma comunidade restrita, e poucas vezes são incluídos na agenda dos jornais. Então, como é possível lançar e consolidar a carreira de um autor português desconhecido dos media e do público? Com os «5 P» da edição: persistência, postura, potencialidade, promoção e paixão. Juntos poderão marcar a diferença, um elemento inovador onde pode residir o sucesso. Não existem fórmulas mágicas, e cabe a cada editora procurar o segredo para atingir objectivos bem-sucedidos nas várias frentes de actuação. Criatividade, originalidade, audácia e uma dose de risco poderão ajudar a distinguir uma Editora de outra, e, em última análise, a ditar o seu futuro. Os escritores estreantes agradecem. E os leitores também.
(*) Inês Mourão, nascida a 2 de Abril de 1976, frequentou o curso de Ciências da Comunicação na Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Na mesma faculdade, concluiu a Pós-Graduação em Edição de Texto. É responsável pelo departamento de Comunicação e Relações Públicas da Editorial Presença desde 2002.
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