quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Com Todas as Letras

Teve ontem início a primeira das sete sessões que a revista Os Meus Livros (OML) está a organizar na Sociedade Portuguesa de Autores.

Esta sessão seguiu o modelo anterior (há três anos, a OML também realizou estas conferências): três convidados respondem a questões, moderadas por João Morales, com intervenção final do público.

Os convidados de ontem foram Carlos Veiga Ferreira (CVF), da Teorema-Leya, António Lobato Faria (ALF), da Oficina do Livro-Leya, e Alexandre Vasconcelos e Sá (AVS), da Objectiva-Santillana. O tema versou sobre «O Regresso: Tendências, Previsões e Outros Riscos».

A conversa começou com CVF a realçar que, este ano, o trash permanece no ponto de venda, sendo que «90% do que lá se vê é não recomendado»; apesar disso, realçou que as propostas que as mais recentes editoras (as Edições tinta-da-china e a Cavalo de Ferro foram referidas) têm trazido ao mercado como elementos positivos de renovação e qualidade.

ALF pegou nas palavras de CVF e, em certa medida, corroborou, dizendo que «este é um ano mau em termos da literatura de que habitualmente gostamos», (referindo-se às pessoas da sala) e destacando «a falta de inovação das propostas» e a continuação das mesmas tendências do ano anterior. «A venda de livros por impulso continuou.» Em poucas palavras, «este é um ano mau para análises».

Abordando também a tendência de muitas empresas editoriais em procurarem somente o que funciona em termos de mercado, ALF referiu-se ao perigo que isso acarreta, pois «um grande grupo que invista só nos bestsellers é autofágico».

AVS frisou a diferença existente «entre grupos que nasceram dos livros e aqueles que vêm de fora e têm muito que aprender».

Os livreiros também foram chamados a esta discussão, com CVF a afirmar que «parte importante da presença de lixo editorial é dos livreiros, […] eles não necessitavam de colocar isso em tão grande destaque».

AVS recorda que «os livreiros idealistas desapareceram», e ALF lembrou que «muito do mercado português foi alavancado na prateleira [dos livreiros]» e que, se todos os livreiros «devolvessem todos os nossos livros que andam por aí espalhados, não haveria uma editora a sobreviver».

Apesar disso, ALF acredita que, «nos próximos três ou quatro anos», possam surgir «muitos projectos interessantes de livrarias» para temas como a literatura ou outros géneros hoje com menos espaço comercial.

Respondendo a uma provocação lançada por João Morales, ALF sorri e indica que, «se se editasse 50% a menos do que se edita, as vendas não iriam, provavelmente, baixar»; apesar disso, não crê que tal possa vir a acontecer nos próximos anos. ALF menciona também uma boa característica do nosso mercado, pois «não há muitos países no mundo onde se possa publicar obras das mais diversas literaturas e ter algum sucesso», o que abre um enorme universo de trabalho para os editores.

A próxima sessão será no dia 29 de Abril e terá como tema «Audiolivros: O Som das Palavras».