ZERO EM SITUACIONISMO,
por João Villalobos (*)
Foi José Pacheco Pereira quem disse a certa altura, falando de Portugal dos Pequeninos, que «É um blogue muito irritante em muitos momentos». Vários dos presentes ali – e eram largas dezenas enchendo a sala da Bertrand do Chiado e diluindo-se pelas adjacentes – também partilham a mesma opinião sobre o autor do Abrupto. Eu sou um deles, mas, chamem-me masoquista ou mesmo sportinguista, gosto de ouvi-lo por isso.
Em verdade vos digo: Se Pacheco Pereira incomoda muita gente, ele e João Gonçalves juntos incomodam muito mais. Para o prefaciador Medeiros Ferreira, que o acompanhou desde o Manifesto Reformador em 1979, o João é «um dos melhores cronistas do século XXI». Um Karl Kraus hodierno (vão à Wikipedia, vão lá). E se os reformadores de há 30 anos pretendiam «autoridade e estabilidade», o autor do Portugal dos Pequeninos mantém-se nisso, como em quase tudo o resto inteiramente, coerente… Continua a elogiar Ramalho Eanes, como também Ratzinger ou Pedro Santana Lopes, entre fotografias provocatórias de Oliveira Salazar.
De quem ele não gosta, apesar de autoritário, «é daquela figura cujo nome não é preciso aqui pronunciar». Do seu Voldemort, do «Menino de Ouro». «Este livro é a antítese dessa hagiografia», explicou. «É a pergunta sobre se vivemos melhor do que em 2005». Em resposta, o «não» que fez do blogue um sucesso é agora servido em páginas e páginas de seleccionados e acutilantes posts, sempre redigidos de olho atento na agenda política e nos seus interstícios.
«O João Gonçalves nunca terá grandes propostas», avisaria Pacheco Pereira. «Este blogue não é nada situacionista.» A plateia, incluindo ainda o ex-bastonário Rogério Alves, o recém-condecorado Francisco José Viegas, Eduardo Cintra Torres, dezenas de bloguers (demasiados para aqui os mencionar todos) e alguns jornalistas (entre eles a dupla Carlos Enes e Nuno Ramos de Almeida, do Jornal da 6.ª da TVI) partilharam certamente a mesma convicção.
Durante os autógrafos, enquanto aguardava a minha vez mordiscando croquetes e recriminando o Paulo Gorjão por ter chegado depois de tudo terminar, apesar de ser o bloguer mais mencionado no livro, a Isabel Goulão (a.k.a. Miss Pearls) apresentou-me a uma amiga que se revelou minha fã, linda que era e com gosto por manuscritos do século XIV.
Perante isto, pensei, ainda há esperança para Portugal. Um dia, viveremos melhor do que em 2005, intuí. Se isso se deverá ao ácido banho de realidade que nos oferece o João? Em parte, estou certo de que sim. Mas principalmente às mulheres. Disso, não tenho dúvida alguma. O que só torna a ausência de Manuela Ferreira Leite, cuja presença chegou a estar confirmada, tão indesculpável como a da situacionista comunicação social.
(*) João Villalobos é consultor de comunicação. Escreveu para vários meios como Semanário, Se7e, O Independente e Diário de Notícias/DNA. Mantém uma página no facebook. Colabora no Corta-Fitas.
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