Afonso Cruz conta-nos a sua visita à III Feira Ibérica do Livro.
«Vi uns cartazes, em Estremoz, que anunciavam a III Feira Ibérica do Livro, a acontecer em Elvas. Tinha a data e tudo: a realizar durante três dias, dizia o coiso, mais precisamente 22, 23 e 24 de Maio. Sem horário que se visse.
A minha casa fica no concelho de Sousel, perto de Almadafe que, por sua vez, fica perto de Casa Branca. Não é fácil comprar livros, a livraria mais próxima está a uns implacáveis 55 km, por atalhos. Um mínimo de 110 km, ida e volta, para comprar um livro sem usar adsl.
Fui, portanto.
Elvas fica a 80 km, fazendo as contas, 160 km de ida e volta. Aproveitei o domingo e lá fui, de manhã. Relembro que os cartazes não tinham horário. Cheguei cedo, lá para as onze, com medo de ficar com o refugo. Estava tudo fechado e no jardim, onde o evento ibérico se realizava, deambulavam uns espanhóis, uns patos, uns papagaios, um ou outro filósofo peripatético e umas tartarugas. Não necessariamente por esta ordem.
Naquele espaço estava tudo aberto: o restaurante, o jardim, enfim, tudo ali à volta, excepto a tal feira. Essa, estava toda fechada. Estranhei, pois imaginava que apenas três dias de envento faria com que os participantes e organização se esmifrassem (perdoem-me a gíria técnica) para aproveitar ao máximo.
Passeie-me por ali à procura de um horário. Não havia. Não quis acreditar, por isso vasculhei todo o território possível. Procurei uma fotocópia, um cartaz, um cartão pessoal: nada. Assim, imaginei que, na pior das hipóteses, teria um horário semelhante às lojas comerciais em dias úteis ou, melhor ainda, como a Feira do Livro de Lisboa. Mas, na dúvida, dirigi-me a quem de direito, a alguém que me pudesse informar: ou seja, entrei no restaurante e perguntei ao empregado.
– Lá para as cinco e meia. Mas como hoje é o último dia, não sei – disse-me ele (que, num raio geográfico avantajado, seria a pessoa mais abalizada para me responder daquela maneira. Pessoal da organização, àf alta de horário, não se via nenhum).
Tinha ido com a família (tudo aquilo me parecia um programa familiar: livros no meio dum jardim, patos, tartarugas e espanhóis), por isso decidimos almoçar, mas, com uma criança de dois anos e meio, estava fora de questão esperar até àquelas horas, às tais cinco e meia.
Para terminar, a coisa mais cultural que fruí nesse domingo: os rissóis de cherne que eram o prato do dia do mencionado restaurante. Um polme perfeito. Quase que compensaram os 160 km.»