sexta-feira, 22 de maio de 2009

Opinião: Boião de Cultura, por Pedro Bernardo

BOIÃO DE CULTURA,
por Pedro Bernardo (*)

Tinha alinhavado para este post um pequeno texto sobre a formação profissional e o sector editorial. No entanto, e como a realidade não cessa de nos surpreender, recebemos na editora, a 21 deste mês, um e-mail da FNAC a indicar que, a partir do dia 1 de Junho, todas as devoluções seriam feitas com etiquetas. O texto, cujo autor se assinava com estima e consideração – naturalmente –, prosseguia dizendo que só assim os colaboradores da FNAC se poderiam dedicar à sua «tarefa prescritora» [sic] e que todos teríamos a ganhar com isto.

Antes de vituperar a medida, convém deixar bem claro que a relação que temos tido com a FNAC se tem pautado pela cordialidade e pelo cumprimento do acordado, por vezes para além do estipulado, e que entendemos as diversas lojas como parceiros, no sentido mais nobre da palavra; de qualquer forma, o sucesso dos títulos é sempre o sucesso de quem os vende.

Dito isto, convém também deixar bem claro que a medida é inaceitável e revela, da parte de quem a tomou, um profundo desdém (espero que inconscientemente) pelos editores – é o equivalente metafórico a pedir a estes que lhe despejem o lixo.

Para mais, a medida vem embrulhada num discurso melífluo pleno de referências à excelência de serviço, dedicação à cultura e defesa intransigente do livro – tudo factores até agora negligenciados pelo empecilho de ter de retirar o que os próprios lá colocaram.

Creio que será um bom teste para aferir a capacidade do sector editorial de se unir e repudiar a uma só voz esta medida esdrúxula e arbitrária. Espero, também, que o ambiente de fim de festa após a Feira do Livro não contribua para distrair os editores para o lado oculto desta medida: o tomar o pulso aos editores, para que, num futuro próximo, se possa impor nova medida arbitrária, a pretexto da crise, do aumento do preço do petróleo ou de uma qualquer pandemia que possa flagelar o globo. Tudo servirá.

(*) Pedro Bernardo, licenciado pela Faculdade de Letras de Lisboa, é director editorial de Edições 70, tendo ainda a seu cargo a produção da mesma editora, onde desempenha funções desde 2000. No seu percurso profissional foi, também, tradutor e revisor.
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