quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Opinião: És competente para editar?, por Nuno Seabra Lopes

ÉS COMPETENTE PARA EDITAR?,
por Nuno Seabra Lopes (*)

Durante centenas de anos editar era um domínio à parte, estável e pouco sujeito à alteração das competências necessárias para o fazer. A função de editor estava integrada na então «arte negra» da impressão, e os segredos da tintagem e da composição passavam dos mestres para os aprendizes, ao longo de toda uma vida de trabalho. Valorizar os conteúdos era algo que ia surgindo e desenvolvendo-se progressivamente, e a capacidade para se ser editor confundia-se com a cultura geral, o conhecimento humanista ou científico, assim como a mundanidade e o prestígio que determinado indivíduo dava à sua casa editorial.
Um editor era então um ser cultural e, só ocultamente, um ser industrial.

O tempo é hoje outro, e as necessidades de especialização cresceram grandemente com o desenvolvimento do sector, dos públicos, dos mercados, da concorrência, das obrigações empresariais, e até dos conteúdos e da forma de os trabalhar. Vivemos num mundo editorial complexo e em mudança, e o que se exige passou a ser mais restrito em termos de cultura, mas mais profundo e complexo na área de especialidade.

A partir dos anos 70, e em Portugal particularmente nos últimos dez anos, os estudos editoriais e as especializações de todas as áreas envolvidas pelo negócio do livro começaram a desenvolver-se, os profissionais e os candidatos a profissionais do sector passaram a dispor de alguma formação avançada, que tem em consideração as especificidades do produto e do negócio do livro.

As competências implícitas, que eram adquiridas no local de trabalho com a experiência (e que, desde sempre, foram o principal activo dos profissionais instalados), passaram a coexistir com estruturas cada vez mais organizadas, com culturas internas capazes de potenciar as capacidades dos recursos humanos e de desenvolver adicionalmente outras competências (tácitas), seja junto de profissionais experimentados ou de jovens profissionais. Surgiu em muitos locais da edição a cultura empresarial, e as exigências instrumentais a ela associada.

Actualmente, o espectro de especialização é já abrangente e as exigências para se ser um bom profissional na área editorial é cada vez maior. A formação em edição torna-se um elemento quase tão preponderante como a experiência, e o mercado começa a abrir-se a pessoas de outras áreas.
Mais do que um editor humanista e culto, hoje em dia, pedem-se também que os profissionais dos livros sejam pessoas que saibam, de facto, o que fazer com este produto.

(*) Nuno Seabra Lopes é licenciado em Estudos Europeus, tem Especialização para Técnicos Editoriais e Mestrado em Estudos Editoriais. Trabalha desde 1999 no sector da edição, sendo Especialista Convidado do Curso de Especialização para Técnicos Editoriais da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
É sócio-fundador da Booktailors e consultor editorial especializado nas áreas da Edição e de Estratégia.
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