quarta-feira, 25 de março de 2009

Feira do Livro Infantil de Bolonha: na recta final (por Carla Maia de Almeida)

No penúltimo dia da Feira do Livro Infantil de Bolonha, o movimento decresceu substancialmente em relação aos dias anteriores. O momento alto aconteceu durante a manhã, com o anfiteatro do Illustrators Cafe repleto de gente para assistir à apresentação da obra vencedora deste ano na categoria de ficção: Robinson Crusoe, de Ajubel, uma edição da editora valenciana Media Vaca. Logo a seguir, reuniu-se o júri internacional, que analisou as cerca de 2400 candidaturas à exposição colectiva de ilustração, para partilhar com o público presente (a maior parte, composto por ilustradores, aqui representados ou não) as razões das suas escolhas, reduzidas a um total de 81 nomes. «São critérios que partem sobretudo do instinto, exactamente como acontece quando trabalho», admitiu Beatrice Masini, acrescentando que, «quando uma imagem é capaz de evocar várias histórias, isso quer dizer que funciona». Chamou ainda a atenção para o facto de, por vezes, os ilustradores se esquecerem de que as crianças são os primeiros destinatários das imagens, um aspecto contestado por Eduardo Filipe, o português que integrou o painel deste ano. «Creio que não existe boa ilustração especialmente para crianças; claro que há limites, mas, essencialmente, um artista deve trabalhar para si próprio», disse. «O que eu gosto, sobretudo, é de ver algo de novo. Os critérios de avaliação são variáveis de pessoa para pessoa, mas tudo é facilitado por sermos quatro pessoas a decidir.» Destacando alguns dos elementos objectivos que concorrem na avaliação de uma ilustração (a cor, a composição, a técnica, o design e a estética), Eduardo Filipe lembrou que não se pode evitar a emergência de um gosto pessoal e sempre subjectivo, e que «a mesma ilustração pode provocar sentimentos divergentes em duas pessoas, pelo mesmo motivo». O inglês John Rowe, outro dos membros do júri, deu um bom exemplo dessa questão ao assumir que se sente sempre mais atraído por cores escuras, e pelo preto em particular, ainda que essa cor (ou ausência de cor, se preferirem) não seja muito apreciada nos livros para crianças. «Também adoro corvos e cães, e isso chama-me sempre a atenção numa imagem», acrescentou, ao mesmo tempo que algumas ilustrações iam sendo vistas no ecrã. John Rowe salientou que, durante as várias fases do processo de avaliação das candidaturas, os nomes dos autores e respectivos países foram propositadamente ignorados, para não agirem como factor de influência, mesmo que involuntária. Refira-se ainda que a Itália e o Japão foram os dois países que enviaram maior número de propostas, mas que a grande surpresa terá sido o Irão, aqui presente com trabalhos de grande qualidade, segundo os especialistas. «Uma ilustração é uma história contada aos olhos», concluiu o último elemento do júri, Won-Bok Rhie, ilustrador e professor da Coreia, o país convidado de 2009. Amanhã, dia 26 de Março, quando a Feira de Bolonha fechar portas, pouco depois da hora de almoço, vai ser possível comprar livros ilustrados em alguns dos expositores. Ou mesmo levá-los de graça, um hábito (naturalmente) muito apreciado pelo publico visitante.

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