quinta-feira, 19 de março de 2009

Entrevista de Luiz Schwarcz, da «Cia. das Letras» ao Estadão

A ler aqui, ou dito de outra forma: a não perder, a entrevista de Luiz Schwarcz, da «Companhia das Letras».

Excertos:
Como a crise econômica atinge o mercado editorial? E o que faz a Cia. das Letras para se adaptar?
(…) Na competição de mercado por livros, os leilões começaram a ser muito altos e os preços também. Essa é uma das faces de um capitalismo artificial, em que as empresas procuram se valorizar sem base real. Paga-se mais por um livro do que ele vai render.
Como se sobrevive a esses desafios? Essa mudança é sofrida, mas positiva. No caso dos bens culturais, a substância é ainda mais fundamental. O editor que trabalha com qualidade vai sentir menos. As pessoas não deixarão de ler - mas elas serão seletivas.

(…)
Há outras formas de enfrentar a crise?
Sim, fazendo um trabalho de base. Dar longa duração aos livros, entrando em escolas, transformando o contemporâneo em clássico. Não cair na tentação do sucesso rápido que dura pouco.
(…)
E quanto à escolha de não trabalhar com best-sellers?
Não há essa escolha. Desde que a Cia. das Letras surgiu nós trabalhamos com livros de longa duração. Não que eu despreze o livro de vida curta, mas tenho menos apreço por ele. Esses títulos contrariam a própria essência do livro, que é quebrar o tempo e o espaço. Uma boa literatura não interessa a um só país ou responde a anseios rápidos.
(…)
E como você enxerga o futuro do livro?
As teorias apocalípticas têm sempre seus arautos de plantão. Mas a leitura não vai acabar. Se acabar, espero não estar aqui para presenciar seu féretro. Não acho também que o livro de papel vá ser substituído, por enquanto. Porque ainda é o melhor formato para o desfrute literário. O livro é algo pessoal, que você cria ao ler, em que o tato é importante. As relações que possuem um grau de subjetividade ainda necessitam de algo material. São como as relações pessoais, não dá para imaginar ter uma relação afetiva com alguém sem poder ver , tocar, encostar na pele.
Há um grande assédio em torno da Cia.das Letras? Você já foi sondado para vendê-la?
O assédio tem acontecido nos últimos anos. Alguns até se tornaram públicos. Mas não surgiu o momento certo para essa decisão. Estou acostumado a trabalhar no modelo atual. É mais prazeroso.
(…)
E o que você pensa da reforma ortográfica?
Não sou mais contra, mas tenho dúvidas se ela dará resultados. Para a literatura é mais custoso do que necessário. É uma discussão antiga sobre a necessidade de fortalecer a língua portuguesa unificando-a. Para fins diplomáticos e de comunicação formal, talvez seja importante. Mas a língua falada e escrita continuará diversa e o sentido das palavras distinto nos vários países. De qualquer maneira, estamos nos adaptando e os novos livros já estão saindo na nova ortografia.

Via twitter JAF.
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