A crónica ao Pé da Letra de António Guerreiro da edição do actual de 21 de Março, intitulada «O Dia Mundial da Poesia é uma invenção divertida» serve ao autor para falar da situação… do romance.
«(…) Esta data comemorativa está para as coisas da poesia como o Movimento Nacional Feminino estava para o teatro de operações da guerra colonial: é uma manifestação de voluntarismo e boa vontade que não interfere no curso dos acontecimentos. Sendo inócua, comporta no entanto o risco de insinuar que a poesia é uma causa que é preciso defender através dos meios de promoção cultural. Ora, ao contrário do que parece à primeira vista, a poesia está muito mais protegida das circunstâncias adversas do que, por exemplo, o romance. O romance como género literário tornou-se vítima do seu próprio sucesso e ficou enredado nas estratégias fatais da indústria editorial. Tudo é como sempre foi: há bons romances e maus romances; há boa poesia e má poesia. Mas o que é hoje diferente é a produção parasitária com que tem de se defrontar aquilo a que se chama ‘ficção’ nos suplementos literários. Um exemplo eloquente desta perigosa hipertrofia é a categorização ad hoc que, para efeitos de recensão e divulgação; faz de tudo o que não é romance algo para o qual só há uma definição negativa: ‘não-ficção’.»