segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Opinião: O meu livro é mais importante que o teu, por Maria João Costa

O MEU LIVRO É MAIS IMPORTANTE QUE O TEU,
por Maria João Costa (*)

Decidi falar sobre uma questão com que muitos de vocês que trabalham na área se irão, com toda a certeza, identificar: o difícil que pode ser gerir uma carteira de autores nacionais!

Todos sabemos que editar autores nacionais tem inúmeras vantagens em relação à maioria dos internacionais. Regra geral, podemos trabalhar os originais desde o primeiro momento, influenciando o produto final; os temas são mais próximos de nós, mesmo espacialmente, os autores estão mais acessíveis aos média, o que é bom para a promoção dos livros; muitas das vezes, os próprios autores são mediáticos, o que, regra geral, ajuda as vendas… Há apenas uma questão a que não podemos ser alheios: não nos podemos esquecer que na origem de cada um deles está uma pessoa, um autor. Alguém para quem aquele projecto é o mais importante da sua vida naquele momento. Uma espécie de filho! É lógico, por isso, que os seus autores queiram saber tudo sobre o seu crescimento e desenvolvimento, como «pais» exigentes que são. Enganam-se, assim, aqueles que pensam que o trabalho do editor termina quando o livro é publicado. Na verdade, uma parte importante do mesmo está, apenas, a começar. O editor é o ponto de contacto mais directo que um autor tem numa editora. A pessoa com quem, na maioria das vezes, se cria um elo de confiança pessoal e, por vezes, mesmo de amizade. O editor passa, muitas vezes, a ser a pessoa com quem os autores mais falam durante o dia ao longo de todo o processo. Faz parte e é, na maioria das vezes, compensador. Contudo, a dificuldade do editor provém do facto de não ter apenas um autor de cada vez, mas sim vários ao mesmo tempo. Os antigos, já com obras publicadas, os que têm trabalhos em curso, os futuros autores… Todos com uma ideia em comum: o seu livro é o melhor de todos.

Como gerir tudo isto, quando temos entregas urgentes para fazer, pessoas à nossa espera, aprovações para dar, dezenas de e-mails para responder e o telefone não pára de tocar? Do outro lado, queixas sobre mais uma livraria onde os livros não chegaram, ou outra onde os livros estão mal expostos, mais um convite para uma sessão de autógrafos, nova entrevista, uma gralha no miolo que passou a todos… Ufa! Podia não terminar nunca esta lista. São autores que aguardam por palavras de ânimo, por conforto, ou pela resposta a simples e pragmáticas informações sobre o andamento dos seus livros. E quando um livro corre mal, a tendência do autor é culpar o trabalho da editora, por ser esta a forma mais fácil de justificar um falhanço. Ser editor pode ser um trabalho de grande desgaste pessoal. De certo modo, parece que os autores se esquecem de que o «filho» também é, em outro sentido, «nosso», e que está ali investido muito do tempo e esforço de toda uma equipa editorial, comercial e de marketing. Trabalhamos por um objectivo comum e estamos do mesmo lado. Acreditamos nos seus projectos, trabalhamo-los e investimos neles. Como podem, por vezes, pensar o contrário? Confesso que, às vezes, dá para desanimarmos.

Mas aí entramos numa livraria, encontramos um dos nossos «pequenos» no top, ali destacado, embevecemo-nos de vaidade e recordamos porque gostamos de ser editores: para podermos partilhar com o público as nossas descobertas feitas de papel
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(*) Maria João Costa tem 32 anos e dirige a chancela de actualidade do grupo LeYa, Livros d’Hoje. Apesar da sua formação jurídica, decidiu ser jornalista, primeiro na imprensa escrita, passando pela RTP e, mais tarde, pela TV Globo, ao tornar-se o rosto do GNT Portugal. Em simultâneo, especializou-se na produção de conteúdos (documentário, televisão interactiva e guionismo). Em termos profissionais, os livros surgiram na sua vida há dois anos, com o desafio da Dom Quixote para criar uma chancela de não-ficção. Nasceu assim o projecto editorial Livros d’Hoje que, com tão pouco tempo de vida, já se tornou uma das marcas mais rentáveis do mercado.