por Carlos Rosa (*)
Numa época em que tanto se fala de cultura, no que se gasta em acções que visam o desenvolvimento cultural, a questão que se coloca é: pode a leitura ser enquadrada neste universo cultural? A resposta só pode ser uma: tem forçosamente que ser, isto se queremos que o país se desenvolva e ganhe a competição global.
Paralelamente, não podemos deixar de lado dois elementos cruciais em todo este cenário: as editoras e os espaços onde se vendem os livros por elas publicados. Neste conceito de espaços incluímos as livrarias, as grandes superfícies comerciais (hipermercados), as pequenas tabacarias e quiosques e, mais recentemente, as estações dos CTT, lojas de conveniência e gasolineiras, os chamados mercados emergentes.
O aumento na atribuição de números de ISBN é acompanhado por igual ou semelhante aumento no número de leitores? Os livros editados e vendidos acabam a sua «vida» nas prateleiras ou nas mãos dos leitores, cumprindo deste modo o papel que lhes foi incumbido? O aumento na atribuição de ISBN significa um aumento no número de livros editados, ou antes um aumento no número de títulos que chegam aos escaparates? O surgimento de novos editores foi acompanhado pelo ou contribuiu para o aparecimento de novos leitores, ou, antes pelo contrário, veio confundir o mercado e, deste modo, contribuir para a dispersão do mesmo por outros bens de consumo na área da cultura?
Na verdade, muito se tem debatido sobre qual o papel do livro nas actuais sociedades contemporâneas. Se ele tem vindo a perder o seu lugar, se isso se deve ao facto de o livro (a par da evolução social das novas realidades) não conseguir acompanhar as novas necessidades de um público cada vez mais exigente a nível de satisfação pessoal e cada vez menos a nível da qualidade literária.
Todos os agentes culturais se debatem com estas e outras questões relacionadas com o desenvolvimento cultural da sociedade e com a importância que esta atribui ao livro enquanto objecto cultural.
O desenvolvimento da sociedade não pode ser medido através do número de livros que se edita, não pode igualmente ser medido através do número de leitores e, por último, não pode ser medido através do género de leitura que estes leitores praticam. Temos pois dois elementos: por um lado, a leitura; por outro, a edição. Ambos podem servir para explicar muito no que toca ao crescimento de um país, mas que, se analisados fraccionadamente, nada explicam e, bem pelo contrário, vêm lançar a confusão num sector que, por si só, já se encontra dividido.
(*) Carlos José Madeira Rosa, 37 anos, licenciado em filosofia, gestor de projecto da parceria Bertrand/GALP desde janeiro de 2008. Está nos livros há cerca de 20 anos. Os primeiros quatro anos foram passados na Livraria Ler, em Campo de Ourique, onde fez a sua formação livreira. Foi durante dez anos responsável de loja na Livraria Barata, estando há seis anos na Bertrand, onde foi gerente da loja de Cascais Valbom, Cascais Shopping e Centro Colombo.
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