domingo, 18 de janeiro de 2009

Tereza Coelho - depoimentos

Isabel Coutinho disponibiliza no Ciberescritas a página do Público de hoje que dá conta da triste notícia. No site, podemos ver os vários depoimentos «do escritor António Lobo Antunes, do psiquiatra Francisco Allen Gomes, do fotógrafo Paulo Nozolino, dos cineastas Joaquim Leitão e João Mário Grilo, do produtor Tino Navarro, de Clara Ferreira Alves, dos editores José Prata, Carlos Veiga Ferreira e Manuel Alberto Valente, de Ana Salazar e Eduarda Abbondanza e da crítica literária Helena Vasconcelos à morte de Tereza Coelho, recolhidos por Isabel Coutinho e Vitor Belanciano».

Excertos (de alguns dos depoimentos recolhidos)
António Lobo Antunes: «...A Tereza tem sido para mim uma pessoa fundamental. Nestes últimos anos, como editora, tem tomado conta de mim e do meu trabalho de uma maneira única. Não sei como vou continuar sem ela. Eu queria que fosse a Tereza a ocupar-se de mim (...) Mas era com a Tereza que eu trabalhava, e isso é muito importante para mim e vai ser muito difícil continuar sem ela. Muito difícil. Muito difícil.

Como editora, ela tinha qualidades únicas, como, aliás, já tinha como crítica literária. A Tereza tinha uma cultura enorme e, além disso, tinha uma qualidade fundamental num editor: um grande editor tem que ser um artista. (...)... tinha tudo para, dentro de mais três, quatro anos, ser uma editora ímpar num país onde fazem tanta falta grandes editores. É mais difícil encontrar um grande editor do que um grande escritor e a Tereza já o era e iria continuar a crescer, de certeza. Isto no que diz respeito à vida profissional. No que diz respeito à pessoa, é uma perda muito grande, porque é uma grande amiga que se vai embora. Uma grande amiga com quem eu pensava que ainda ia ter muitos anos para estar, para estar com o Rui e para continuarmos um trabalho que começámos e que tem sido apaixonante para os dois. Tenho muita pena. A vida é muito injusta. Tenho muita pena também dos meninos e também tenho muita pena de mim."

Clara Ferreira Alves: «Foi uma belíssima crítica literária numa altura em que a critica literária, em Portugal, tinha poder. Escrevia muito bem e sabia muito de livros. Era uma bela inteligência. Algumas vezes com uma lucidez incómoda, até para ela. Tinha um olho clínico para os livros, que é coisa rara. Nunca quis fazer uma carreira literária. Dizia aliás que era das poucas que não queria escrever um romance. Não era isso que ela queria.(...)Pessoalmente, deixei de ler crítica literária depois de ela ter deixado de escrever.»

José Prata: «Ela escrevia como ninguém; quero dizer, escrevia com carácter, não precisava assinar os textos para que soubéssemos que eram dela. E tinha obsessões próprias, fascinavam-na os comportamentos desviantes, as metamorfoses do corpo, os anões, os ossos.(...)Aprendi sempre, ela editava sem remorsos, limpava dos textos tudo que neles estava a mais, a lágrima fácil, o sentimento empolado, até deixar apenas o esqueleto. Apesar de ter publicado livros, como a fotobiografia do António Lobo Antunes, dizia sempre que não tinha um livro dentro de si, e penso que falava de romances. Não deixou nenhum. Tenho pena, gostaria muito de a ter lido sem ser como jornalista.”»

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