quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Book-it: Lisboa revisitada, de Jorge Colombo. Apresentação de Inês Pedrosa

Inês Pedrosa apresenta a exposição que será hoje inaugurada às 18h30 na Casa Fernando Pessoa, intitulada Lisboa Revisitada, da autoria de Jorge Colombo - uma série de fotografias deste artista, residente nos Estados Unidos há vinte anos, que procurou captar os ângulos da cidade que tocariam o poeta-engenheiro naval, caso ele andasse por Lisboa neste início do século XXI.

«Ao engenheiro Álvaro de Campos coube a ciência do sexo, essa disciplina de ascensão da alma ao corpo que oferece aos seres humanos a experiência da eternidade. A cidade, amálgama de terra e aço, cimento e electricidade, sentimentos e desejos e nervos e ruídos, ofereceu-se ao olhar clínico e quente do engenheiro naval como a concretização superior dessa ciência. A cidade é um organismo que se cria e recria incessantemente, uma febre mecânica em ondulação perpétua. A Lisboa de Álvaro de Campos é a Metropolis de Fritz Lang despida das datas das ideologias – a cidade que tritura e agiganta a humanidade, num movimento de êmbolo perpétuo. O sexo, entendido como fusão de sangues inconciliáveis, na acepção lúcida e brutal de D. H. Lawrence, é a matéria-prima da construção urbana – traduzida em amálgamas de cabos, crateras e andaimes, guindastes, múltiplas maquinarias cada vez mais sofisticadas. A barbárie e a civilização, o perigo e o conforto, a morte e a vida, num abraço infinito. A «Ode Triunfal» parece escrita hoje, porque foi escrita nesse lugar imune ao tempo onde Campos, mais do que o próprio Pessoa, conseguiu viver. O lugar vertiginoso do sexo – que não deve confundir-se com as catequeses temporais e melancólicas da «sexualidade».

«Olhar é em mim uma perversão sexual», escreveu Álvaro de Campos. Desafiámos Jorge Colombo, inocente e perverso criador de imagens, leitor apaixonado do mais visual e visionário heterónimo de Pessoa, a que revisitasse a Lisboa inventada pelo poeta engenheiro – uma Lisboa anti-típica, anti-turística, a cidade arquétipo de todas as cidades passadas e futuras. Mais do que imaginar Álvaro de Campos ressuscitado na década zero do século XXI, Colombo ousou entrar nessa dimensão atemporal que era e é a de Campos para criar o poema visual da cidade absoluta, anónima e íntima, em imortal combustão.


Inês Pedrosa
Dezembro 2008»
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