terça-feira, 30 de dezembro de 2008

A edição portuguesa, por António Guerreiro

AG, na edição de balanço de 2008 do suplemento Actual (Expresso), publicou um texto ("Um mundo maravilhoso e colorido") dedicado ao estado da edição em Portugal. Excertos:

«Exemplo triste e eloquente da aberração que se tornou regra: a capa da mais recente reedição de As Cidades invisíveis, de Italo Calvino (Teorema), tem letras prateadas e em relevo.
(...)
Tentar traficá-lo desta maneira dissimulada é um péssimo serviço prestado pela editora. Mas esta é a regra em que vivemos no campo editorial: os livros são editados visando os «consumidores» que não os vão ler e pondo à distância os leitores que sabem o que querem ler. E como esta é a regra, as livrarias portuguesas tornaram-se um imenso bazar de capas coloridas, o que desafia qualquer capacidade de orientação.
(...)
livros de ciências humanas e sociais. Neste campo, a pobreza é de tal ordem que podemos falar de uma operação de extermínio silencioso. E as colecções de poesia, que tinham um peso com algum relevo no fluxo editorial, entraram nitidamente numa fase de abrandamento. A homegeneização é total e tudo se conforma aos padrões de um público maioritário. (...) Eu penso que a catástrofe já se deu, está à vista, e nada de muito pior pode acontecer. Aguardemos que a paisagem se reconfigure, ou que a condição de clandestinidade em que circulam muitos dos melhores livros editados se torne uma condição digna de existência e de sobrevivência.»

Actual (Expresso), 'Um mundo maravilhoso e colorido', 27.12.2008, p.17.

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