Luis Graça, num comentário ao post que transcreve excertos da entrevista de Inês Pedrosa ao Público, aponta as potencialidades da Casa Fernando Pessoa (CFP), incluindo a nível afectivo, e da possibilidade de se fazerem coisas sem ou com pouco dinheiro. Não posso estar mais de acordo. Aliás, com o orçamento minúsculo de que a CFP dispõe, não pode ser de outra forma.
Congratulo por isso a CFP, na sua directora, Inês Pedrosa, por estar a reunir apoios para viabilizar alguns projectos, recorrendo a privados como o Grupo LeYa («Temos também um projecto de edição contínua de textos em torno de Fernando Pessoa com o grupo editorial Leya. Estamos a estudar o modelo.»); congratulo a a CFP, na sua directora, Inês Pedrosa, por não dar mostras de estar disposta a baixar os braços face aos constrangimentos financeiros que a instituição que dirige sofre.
As dificuldades financeiras não são de agora e já Francisco José Viegas (FJV) o apontara. Se a atitude de Inês Pedrosa (IP), ao pressionar politicamente a Câmara é correcta, é discutível, mas não a vou discutir. A Casa Fernando Pessoa tem uma herança e é com essa herança que IP, apesar de tudo, está disposta a lidar. A matéria-prima, as ideias e a vontade existem: a Casa tem uma excelente equipa, disposta a abdicar do pagamento de horas extraordinárias para que os eventos decorram after-hours (FJV em entrevista à VISÃO elogiou publicamente os seus colaboradores de então); é uma casa plena de simbolismo e afecto que pode, e deve como está a ser, capitalizado; IP apresentou algumas ideias para o merchandising pessoano, que, como a própria explicou oportunamente, não traria mais verbas para a Casa; afrontou pessoalmente Pinto Ribeiro, desafiando-o a concretizar a sua afirmação de que Pessoa teria mais valor económico que a PT.
A Casa faz parte do património português, é Lisboa, cada vez mais. E para isso estará decerto IP grata ao seu antecessor, pelas bases que deixou. FJV abriu a casa à cidade e aos leitores, através da dinamização de encontros, lançamentos, debates e tertúlias com o livro como protagonista, e que deram variadíssimas vezes páginas de jornais à Casa. As editoras perceberam que tinham ali um espaço nobre para os seus lançamentos e aproveitaram-no. Para alguém que, como eu, tendo nascido em Lisboa, viveu sempre na periferia, foi a descoberta “real” da casa. Mas paralelamente a tudo isto, FJV teve ainda o condão de criar plataformas (gratuitas) de comunicação directa com todos os interessados, através da dinamização do blog Mundo Pessoa – o que alargou os seus públicos, ao mesmo tempo que contribuiu para o aumento do ruído (ruído bom, entenda-se) em volta da Casa; com o prestígio e notoriedade que goza conseguiu também ele reunir alguns patrocínios; que as pessoas olhassem para Casa com outros olhos. Com o seu estilo e empenho pessoal irrepreensível, colocou a Casa na moda, tornando-a um espaço de encontro de leitores, editores e outros profissionais – o que agora será decerto um bom argumento para a obtenção de patrocínios que tanta falta fazem à Casa.
Inês Pedrosa está a colocar a fasquia muito elevada para a Casa, e é por esse cânone que será julgada. O que me parece injusto. A ambição de IP é salutar, bem-vinda e deve ser motivo de regozijo para todos. Na altura em que Inês Pedrosa decidir abandonar a Casa, num hábito que é tão nosso de criticar tudo e todos, não nos devemos esquecer disto.
Paulo Ferreira