sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Um problema central nos livros

Por Nuno Seabra Lopes

O Sérgio Almeida, no JN de hoje, escreve sobre um problema que se tem vindo a acentuar de ano para ano: a centralização da indústria e das vendas de livros em Lisboa.

Eu próprio sou fruto dessa centralização, tendo demandado da minha já não tão Invicta cidade para esta Lisboa há cerca de 5 anos. Tal como eu, outros cá estão e muitos são aqueles que querem vir.

Semanalmente, falo com profissionais do sector que me revelam ter vontade de mudar para Lisboa, e os motivos não são a luz do Tejo, a Ponte Vasco da Gama e a maior proximidade do Algarve, mas a formação, as perspectivas de carreira e a maior facilidade para desenvolver os projectos.

O Porto nunca foi, nem pretendeu ser, a principal cidade livreira do país, sempre fiel à sua dimensão, detinha um honroso 2.º lugar, associado a uma dinâmica e uma iniciativa que constantemente o rejuvenescia e o diferenciava.

Porém, nos últimos dois ou três anos (e antes dos fenómenos de deslocalização referidos pelo Sérgio), o cenário começou a mudar.

A dinâmica que Lisboa manteve passou a ser inversamente proporcional ao que no Porto se passava – actividades de divulgação, gente a ler e a comprar livros, autores a publicar, etc. – sem se detectarem motivos maiores de alteração. As livrarias continuavam a abrir por todo o lado e as bibliotecas continuavam a fazer um magnífico trabalho, tanto em Lisboa, como no Porto e por todo o país.

Fico então com a sensação de que no Porto se perdeu o prazer dos livros, algo mudou no paradigma cultural da cidade e, consequentemente, fez mudar as políticas culturais e os objectivos de desenvolvimento cultural.

Digo isso porque sinto que, no Porto, os concertos continuam com vigor, assim como o consumo de cinema, a indústria nocturna, o turismo e outras indústrias mais ou menos culturais. Não me venham falar do fenómeno da crise, ela afecta o país todo e, certamente, também afectaria na mesma medida estes consumos na cidade do Porto.

As empresas estão onde está o mercado e o mercado só existe onde houver dinâmicas de motivação comercial. Longe de mim querer ser crítico em relação à sociedade civil e à autarquia do Porto, muito menos pretendo afirmar uma suposta supremacia do livro sobre outros produtos, mas quando se deixa de apoiar o fomento ao consumo de livro (e não falo só da Feira do Livro do Porto) não se deve estranhar a perda de importância desse mercado e as consequentes quebras em termos industriais.