segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Byblos, por Pedro Rolo Duarte

«O fecho da livraria Byblos encerra algumas lições exemplares que podem ser úteis aos livreiros que desejem transformar sonhos em realidades...

Um. Não adianta ter a mais moderna livraria do planeta, com écrans tácteis que nos encaminham para os livros e muita robótica debaixo das alcatifas, se essa livraria se encontra num local que fica “quase” nas Amoreiras, “quase” em caminho, que “quase” dá para ir a pé, e que talvez tenha um estacionamento decente, embora ninguém saiba.

Dois. Não adianta ter uma livraria central, “quase” ao lado de um Centro Comercial de sucesso, fechada ao domingo por ter tamanho de hipermercado. Mais valia que reduzisse a dimensão para poder ganhar um dia semanal de negócio.

Três. Abrir uma livraria que não fica no Chiado, não se chama FNAC, e não está dentro de um Centro Comercial, e fazer o mais medíocre e lamentável trabalho de comunicação de que há memória desde que foram inventados os correios, é suicídio puro.

Quatro. Por fim, fazer uma livraria sem o apoio e a amizade de quem edita livros – as editoras... -, não é seguramente o melhor caminho para o sucesso.

A Byblos fechou porque acreditou num mundo inexistente: o dos consumidores cultos, informados, exigentes e empenhados. Seriam esses os que procurariam uma Byblos sem marketing e comunicação, uma Byblos cujo valor acrescentado estava num acervo de 150 mil títulos (e era mesmo mais-valia sobre as Fnac’s desta vida, se tal facto tivesse sido comunicado, trabalhado e bem vendido...), uma Byblos que obrigava o cliente ao esforço de ir propositadamente até àquela esquina ventosa.

Ora, nos livros ou nos iogurtes, o consumidor quer, além do preço, acessibilidade, facilidade, informação, comunicação, marketing, e de preferência a carne picada para ser mais fácil comer. Não perceber isto iria necessariamente dar no que deu.Ou no que não deu...»

Aqui.