quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Booktrailer Viagem de Elefante

Hugo Torres colocou no blog Rascunho um post no qual explica a sua opinião relativamente ao booktrailer em questão, tecendo ainda alguma considerações aos meus comentários. No final, a itálico, coloco algumas considerações minhas:

«O booktailor Paulo Ferreira desafiou-me a esclarecer a minha fraca opinião sobre o booktrailer para A Viagem de Elefante, o novo de José Saramago. Devo dizer, antes de mais, que as razões me parecem bastante óbvias. E não têm que ver com a «extensão» do vídeo, com o «lettering» ou com o «excesso de mensagens». Passam antes pela qualidade da ideia e do guião, pela execução técnica, pela legibilidade, pela comunicação e sedução com e do público, etc.

Não me parece honesto afirmar, como o Paulo, que a desculpa de tão fraco produto final seja o aperfeiçoamento de uma prática que ainda vai no início. Porque no início estão os spots publicitários em audiovisual, que já andam a ser trabalhados, em Portugal, há pelo menos meio século, e assumem uma importância na nossa programação televisiva difícil de ignorar. O que significa isto: há profissionais especializadíssimos na área, que podem ajudar a fazer um bom trabalho neste campo. Que o formato vai no início e que precisa ainda encontrar o seu rumo e etc., concordo plenamente. Há diferenças entre publicitar futebol, óleos alimentares e créditos à habitação. Os livros terão de encontrar a sua forma de comunicar. (E haverá, claro, divergências no que toca a comunicar via televisão ou via Internet.)

Gostaria sobretudo que os departamentos de comunicação e marketing das editoras não vissem o público da Internet como um parente pobre da nossa realidade de audiências dominadas pela televisão. Respondendo à ironia do comentário de Helena Alves, do departamento de marketing da Caminho, no tal do post, pedindo consultadoria na área, digo-lhe apenas que muito provavelmente não precisará de mim para coisa alguma, se um simples exercício de autocrítica for feito: eu passaria isto na televisão? A resposta para este vídeo seria, a meu ver, clara e peremptória: não. Mas, crendo que exista quem pense que sim, uma segunda questão: que imagem da marca passaria, com isto, ao público?

A duração do vídeo, que Paulo Ferreira refere como um dos seus problemas, é, pelo contrário, uma liberdade que pode ser bem explorada num contexto online, livre dos grilhões do tempo de antena e dos euros ao segundo. Senão veja-se o exemplo do booktrailer realizado para promover o último de António Lobo Antunes: tem mais de nove minutos e nem por um bocadinho lhe tirei os olhos de cima. Qual terá sido, além do óbvio, a grande diferença entre um e outro? A equipa de produção contratada para realizar este último. Trabalho profissional. O que não podemos esperar é que alguém que tem por funções isto, vá também dar uma perninha naquilo. Sei bem que se me puser a fazer um booktrailer (ou um vídeo qualquer) vai sair tecnicamente tosco e fraquinho; mas também sei que não vou chamar um dos realizadores da RTP para fazer um jornal comigo. A Caminho não tinha orçamento disponível para o seu mais nobre autor?

Note-se: o problema não está em quem realizou este booktrailer, mas na opção de gestão de não contratar alguém que, dada a sua experiência, pudesse fazer um trabalho válido e não apenas uma coisa para dizer que algo foi feito. E se o dinheiro realmente escassear para recorrer às comuns agências de publicidade e produtoras, pois que se utilize os recursos humanos que pululam na Internet, tantas e tantas vezes com portefólios interessantíssimos e ainda estudantes, freelancers, desempregados, etc., que cobrarão, estou certo, bem menos pelo trabalho.

Resumindo: claro que percebi, logo à partida, que o vídeo não tinha sido feito por profissionais, e o que digo é que já é hora — deveria ter sido logo a partir do momento em que isto deixou de ser brincadeirinha — de levar estas coisas da comunicação bem a sério, não esperando que as gentes que operam online sejam mais condescendentes e/ou menos exigentes que aqueloutras, offline. Acrescento ainda que, tal como sugere o Paulo, deveria, logo de início, ter feito mais do que lançar uma laracha telegráfica. Não foi minha intenção fazer parte do clube do bota-abaixismo — era, para mim, como disse, uma evidência o que tinha corrido menos bem. Mas o que para cada um de nós é evidente para o do lado pode já não o ser. O que é só natural. Espero ter-me redimido»

Notas:
1. Sei que os spots televisivos já fazem história há algum tempo - fiz umas boas dezenas deles ao longo de seis anos na publicidade. Mas por isso mesmo também sei que as verbas não são as mesmas para um spot publicitário e para um trailer de um livro. Para contornar este problema, no entanto, diga-se, Hugo Torres sugere a utilização de estudantes ou desempregados que, poderão assim, fazer um bom trabalho a um custo mais baixo.

2. Reforço que há alguma confusão entre um video de apresentação de uma obra (caso do Lobo Antunes) e um trailer. São coisas diferentes. Por isso percebendo a questão da liberdade que Hugo Torres refere relativamente à extensão do trailer, convém também perceber quando estamos a falar de um documentário (Lobo Antunes) e de um trailer (videos curtos, sedutores na sua imagem e concepção, que mostram sem revelar o livro, vistos em contexto laboral "à socapa"), a extensão do video não pode ser descurada. Relativamente ao video de Lobo Antunes, Hugo Torres, estamos o mais de acordo possível: eu também não tirei os olhos de cima do video durante nove minutos. Mas fi-lo em casa, pois só aí podia tirar 9 minutos para ver o video. Se pretendemos que os videos sejam vistos de qualquer forma, independentemente do contexto, do local, etc, os videos não nos poderão levar muito tempo.

3. Helena Alves, da LeYa Caminho, num comentário do post original de Hugo Torres, sugeriu que este pertencesse a um painel que pudesse opinar sobre os videos da Caminho. Hugo Torres chama a esta acção de ironia. Honestamente, não me pareceu. E seria talvez bom esclarecer se é de facto ironia ou se, de facto, há vontade da gestora de marca da Caminho em colocar em prática tal ideia. E já agora saber se, nessa altura, Hugo Torres aceitará colaborar.

(pf)