segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Artigo Texturas - Parte 1/5

A Booktailors, através de Nuno Seabra Lopes assinou recentemente um artigo na revista especializada de edição Texturas (número 6).

Como nem todas as pessoas têm acesso à revista, e porque gostaríamos que o público português tivesse acesso ao texto na língua original (sem o crivo da tradução), vamos publicar ao longo dos próximos cinco dias o referido artigo.


Em termos estatísticos, a língua portuguesa é falada por 240 milhões de falantes nativos (exceptuando a variante galega), aos quais se adicionam cerca de 5 milhões de falantes não nativos, sendo a 5ª mais falada do mundo e a terceira língua indo-europeia, atrás do castelhano e do inglês.

Tendo como mercados o Brasil, Portugal, Angola, Moçambique e vários outros pequenos países, assim como uma diáspora de emigrantes e descendentes de emigrantes lusófonos, a língua portuguesa é, potencialmente, um dos mais seguros valores ao nosso dispor – ainda recentemente, o ministro da cultura português afirmava que o património do poeta Fernando Pessoa valia financeiramente mais do que a PT (principal empresa de telecomunicações portuguesa) − e prognostica para a edição portuguesa um futuro atraente para quem nele queira investir.

Foi com esta perspectiva em mente e com esse discurso que, desde finais de Março de 2007, foi apresentada ao público a estratégia subjacente ao movimento de concentração do Grupo LeYa, o novo actor que entrou de forma invulgarmente agressiva para este mercado em Portugal, deixando todo o sector em polvorosa.

Foram várias e emblemáticas as editoras adquiridas, mas a marca comum em todo o processo foi a forma rápida e simples como se concretizou.

Como foi tão fácil isso suceder e por que razão não tinha sucedido antes?

O mercado editorial português tem permanecido longe dos processos de concentração que marcaram a Europa e os EUA a partir de meados do século passado.

Mesmo após a adesão de Portugal ao projecto europeu, com a livre circulação de capitais e uma moeda única que favorecia os investimentos internacionais, o mercado do livro em Portugal permaneceu algo distante das modificações que se verificavam nos restantes sectores do país.
Desde sempre um mercado tradicional, associado à cultura e à política, era também um mercado composto mais por pessoas do que por empresas, por personalidades e formas de actuar em detrimento de objectivos empresariais e metas de crescimento.

O factor humano foi, assim, uma das razões que levou à continuidade de muitas formas de estar, impedindo associações e colaborações mais próximas, levando a controvérsias diversas que tinham mais a ver com os relacionamentos pessoais, do que com as necessidades comuns.
Da mesma forma, houve sempre um compromisso tácito que impedia práticas mais agressivas, como o roubo de autores ou directores editoriais e, quando tal sucedia, isso não era bem visto pelo sector.

(continua)