A Livraria Férin fica na rua Nova do Almada, mesmo em frente ao nosso escritório. E por isso somos observadores privilegiados do cuidado que João Paulo Pinheiro (aqui entrevistado por e-mail) imprime em todas as suas tarefas de livreiro. Desde a decoração da montra ao cuidado extremo, personalizado, com que trata cada um dos seus clientes.
A Férin destaca-se por ser, claramente, uma livraria dedicada a um público muito especial. Foi uma opção «natural», fruto da paixão e do gosto, ou uma opção «pensada», fruto da segmentação e da vontade de prestar um bom serviço a um determinado nicho?
Mantemos a opção natural de ter grande quantidade de livros em língua francesa, como tem sido timbre desde a origem da Livraria, e tentamos sempre ter livros menos comuns e de boa qualidade que não se encontrem facilmente noutras Livrarias, mantendo, assim, o interesse e a preferência desse nicho de mercado, pequeno e exigente, mas simultaneamente assíduo e generoso.
Tendo uma grande proximidade histórica e geográfica com a Bertrand, o que diferencia os dois projectos?
A Férin é um projecto unitário, virado para um público mais selectivo em determinados temas, como a arte, a história e a geneologia, entre outros, e onde privilegiamos muito o serviço ao cliente.
Por outro lado, a Bertrand é uma marca que está divulgada em mais de 40 Livrarias espalhadas por todo o País e, por isso, é uma livraria mais para o chamado grande público. Está também associada a uma chancela editorial à qual creio dá uma exposição preferêncial.
A Fnac a 100 metros de si é uma ameaça ou uma oportunidade?
A Fnac no Chiado é um pouco as duas coisas, tem uma capacidade imensa de trazer público para esta zona da cidade o que representa uma boa oportunidade para o comércio na sua proximidade, mas também dado a sua dimensão e à dinâmica que gera sobre si mesma, tem tendência a desertificar quem vende os mesmos produtos, como já aconteceu com os discos e cds, e nos livros já levou uma parte muito significativa das vendas. Lembro que só no Chiado existe um número importante de Livrarias (Bertrand, Coimbra Ed., Férin, Lello, Portugal e Sá da Costa) e na Baixa mais algumas ( Diário de Noticias 1 e 2, Citação, Petrony, Rei dos Livros, Rodrigues e S. Paulo). Desculpem se me esqueci de alguma.
Qual é o vosso cliente habitual (alvo)? O perfil de leitor tem-se alterado ao longo dos tempos?
O nosso objectivo é ter o maior número de clientes possiveis dentro das opções temáticas que escolhemos valorizar na Livraria e também aqueles aos quais possamos prestar um serviço de encomendas a pedido.
Hoje há certamente mais gente a ler ficção, pois a divulgação e acesso à leitura nunca foi tão grande como agora. Há também o facto de alguns autores portugueses terem despertado o interesse de quem lia, sobretudo de autores estrangeiros traduzidos e que conquistaram novos leitores em grande número.
No que se refere a temas mais especificos penso que as pessoas estão mais exigentes pois têm tendência a aprofundar os conhecimentos em áreas marginais à sua formação e actividade profissional, e de temas de interesse particular onde o nível é já bastante elevado.
Quais os serviços que uma livraria como a Férin presta aos seus clientes? Isto é, o que é que os clientes podem encontrar na Férin e que não encontram noutra livraria?
Na Livraria Férin os clientes podem encontrar um ambiente acolhedor cheio de tradição, mas também a modernidade exigida pelos tempos actuais.
Atendimento personalizado onde se procura priviligiar o diálogo com o cliente, bases de dados online para consulta rápida e consulta via Internet, serviço de encomendas a pedido, possibilidade de entrega de livros em casa, nas empresas ou em instituições e ainda um departamento de assinaturas de revistas e um serviço de encadernação.
No piso inferior da Livraria, onde funcionam alguns dos serviços, existe um espaço onde se realizam lançamentos de livros, encontros temáticos e também exposições de pintura.
Se pudesse pedir aos editores e distribuidores portugueses que alterassem uma prática, qual seria?
Aos Editores pedia que não vendessem os livros directamente ao público e a instituições mas que o fizessem através das Livrarias.
Aos Distribuidores que não fizessem a distribuição de novidades à 6ª Feira.
Como vê actualmente o surgimento de novos projectos de fundo como a Byblos?
Não conheço pessoalmente a Byblos, já li sobre o projecto e ouvi opiniões de clientes nossos que lá foram visitar e utlizar os serviços...
Vamos esperar um pouco mais para ver e avaliar como será no futuro.
Segmentar é excluir, diz-se habitualmente. Que produtos é que a Férin exclui terminantemente?
À partida a Férin não exclui comercializar qualquer produto. Avalia e opta quando confrontada com as situações e sempre em função dos seus valores e tendo em vista os seus clientes. Em todo o caso podemos sempre encomendar para satisfazer uma encomenda de cliente.
A Férin é famosa por ter uma selecção excelente de obras importadas. São vocês que as seleccionam ou confiam nas dicas dos vossos clientes?
A escolha dos Livros importados é sempre feita por nós, mas as dicas dos nossos clientes são como um trunfo que nós utilizamos para valorizar a selecção que fazemos.