Jorge Reis-Sá comenta a carta de Guilherme Valente para o DN, na qual referia que apenas aliciaria Lobo Antunes, se este não tivesse qualquer vínculo a uma editora.
«Ultrapassando a contradição de termos nos dois parágrafos (então a Gradiva nunca faz propostas aos autores de outras editoras, mas quando faz são irrecusáveis) e a imodéstia que só lhe fica bem, acho que esta posição tão de "boa gente" só fica mal ao Guilherme Valente.
Uma editora é uma empresa. Um autor um activo de uma editora. Quantos activos mudam de empresa porque têm melhor propostas de trabalho noutra? Porque raio deve o negócio dos livros ser diferente nesse aspecto? É certo que tem características muito próprias, nomeadamente a relação autor / editor que não costuma ser comparável com a relação habitual entre funcionário e patrão. Mas se falamos repetidamente na componente empresarial do negócio dos livros, porque dizer que se não cede à selva? Que selva? O Guilherme Valente, se precisar de um director comercial não fará propostas (via uma empresa de recrutamento ou mesmo directamente) ao director comercial da Presença, da Leya ou da Porto Editora? Então porque não fazer propostas ao Lobo Antunes ou ao Saramago?
Acho que é necessário ler o negócio dos livros nas suas mais amplas variantes. É muito específico, sim, envolve valores culturais, criação, arte, deslumbramento. Mas também é, infelizmente, a selva do capitalismo. E se Guilherme Valente não quer ceder a essa selva deve dizê-lo não só no caso dos autores como no caso do director comercial que não iria contratar ao vizinho.»