Dificilmente poderei dizer algo que auxilie em relação a isto.
Tendo também saído desta cidade, onde nasci e sempre vivi até há seis anos atrás, sou também responsável quando escuto de quase todas as bocas que o Porto está deprimido.
Deprimido é uma palavra estranha para uma cidade que parece sempre deprimida mas que, na realidade, tem certa sombra que lhe é familiar e que não se pode confundir com depressão – pelo menos no Porto ninguém a confunde.
Mas a verdade é que a palavra depressão é sugerida não pelos olhos dos que vêem aquela cidade com hábitos distintos, mas pelas pessoas que lá vivem e que sentem essa sensação.
Observamos que a Feira do Livro do Porto é já considerada como desinteressante de um ponto de vista comercial, que todo o mercado está aquém das suas reais potencialidades, que ao invés de crescer o consumo de livros, observa-se a diminuição do interesse por produtos dessa natureza.
Simultaneamente, Serralves continua vigoroso, os espectáculos de música estão cada ano mais interessantes e as artes em geral continuam sendo uma mais-valia óbvia quando se fala com as comunidades mais jovens da cidade.
Só a edição se encontra deprimida, a par da economia regional.
Penso: o mal dos livros é acharmos que eles se podem fazer à distância.
É acharmos que concentrando tudo em Lisboa não estaremos a prejudicar o resto do país.
É errado: estamos.
Ao observarmos o trabalho incansável das editoras que se mantêm na periferia, que estão atentas e receptivas à comunidade literária local, que dinamizam os mercados em seu redor, observamos que cidade onde haja editora, existe cultura, e não necessariamente o contrário.
Falemos da Angelus Novus, da Quasi, da Livros de Areia ou de tantas outras que lutam diariamente com a animadversão (obrigado Saramago por tão bela palavra) de vir para Lisboa, não posso deixar de me sentir culpado.
Que em Lisboa somos capazes de conseguir fazer mais por nós e pela edição?
Incorro novamente no erro e espero que sim, sinceramente espero que sim.
(nsl)