terça-feira, 3 de junho de 2008

O que divide os editores?(José Mário Silva)

José Mário Silva publica um post no qual faz um resumo do encontro da passada quinta-feira na Casa Fernando Pessoa. Pela pertinência, tomamos a liberdade de transcrever todo o post:

«...o debate “Livros em Desassossego” voltou a fazer jus ao título pessoano. Com algumas das principais figuras do nosso meio editorial presentes, na mesa ou na assistência, houve mosquitos por cordas, tentativas de reconciliação, palavras contra palavras, frases venenosas e grosserias, indirectas e retórica barata, um festim. Com paciência de santa, a Sara Figueiredo Costa resumiu neste post os factos mais importantes da longa maratona. A mim, o que me impressionou foi ver como interagem e discutem, nem sempre com a civilidade exigível, meia dúzia de indivíduos que protagonizaram, desde os anos 70, os grandes cismas do associativismo editorial português, da criação do Clube dos Editores à UEP, passando pelas desavenças internas dentro desta estrutura que se perfilou como alternativa à APEL (desavenças acentuadas, este ano, com a crise em torno da Feira do Livro de Lisboa).

Quem chegasse ontem à sala principal da Casa Fernando Pessoa, por volta das onze da noite, deparava com um cenário digno de RGA estudantil ou Assembleia-Geral do Benfica. Depois de uma aparente aproximação entre a UEP e a APEL, proposta por um Carlos da Veiga Ferreira que nem sequer exclui o cenário de fusão, Tito Lyon de Castro quebrou o verniz, ao repetir que a associação de que faz parte (UEP) o tratou, e a outros membros, “abaixo de parvos”. Em causa estava a verdadeira história da preparação da Feira deste ano e logo se entrou numa troca de galhardetes absolutamente incompreensível para quem não acompanha de perto as tricas do meio, com referências a jantares no restaurante Faz Figura, em Santa Apolónia, à emergência da LeYa, à arregimentação dos votos de pequenos associados (como a “Papelaria das Barrocas” ou a “Casa dos Óculos”) e outras considerações mais ou menos conspirativas. Em suma, foi um pouco triste verificar que os fantasmas do passado ainda ensombram o presente, boicotando à partida qualquer discussão sobre o que pode e deve mudar no mundo editorial português.

Da longa noite de escaramuças e boutades salvou-se Osvaldo Manuel Silvestre, editor da pequena Angelus Novus, que lamentou o facto de os editores estarem “sempre à pancada uns com os outros”, recordou o problema essencial do espaço de exposição nas livrarias (cada vez mais um factor de redução da diversidade) e sugeriu três excelentes livros que ele gostava de ter editado: Diário 1941-1943, de Etty Hillesum (Assírio & Alvim); O Homem Sem Qualidades, de Robert Musil (Dom Quixote) e O Mundo Num Segundo, de Isabel Minhos Martins e Bernardo Carvalho (Planeta Tangerina).»