«Passemos ao mercado editorial. Numa altura de maior concentração, sente-se bem enquanto escritora dentro do grupo Leya?
Sim. E se não me sentisse saía. Acho extraordinário ver escritores a darem declarações enquanto anónimos porque não querem ter problemas. O fascismo acabou. Se eu não estivesse bem, saía. Sou contra o monopólio mas existem leis para isso. A concentração vai em 25 por cento. Claro que são as maiores editoras e os autores portugueses. Mas se há um projecto, como parece que há, de investimento em África e investimento no Brasil, e se eles têm essa noção, se compraram editoras
a altíssimo preço—a Dom Quixote nem estava à venda e acabou por estar pelo dinheiro que ofereceram — não é com certeza para as destruírem e para fazer só hambúrgueres de livros.
Cheguei à CFP em Fevereiro, que não é altura de se pedir subsídios a ninguém, pedi apoio à Leya e deram-me apoio imediato.
Dirão: Porque é uma autora deles e isso interessa-lhes. Seja como for, apoiaram a CFP, já fizeram um favor a Lisboa e ao mundo. Não é um favor pessoal a mim, de certeza. Não fiquei com um euro disso.
As pessoas preocupam-se com esta concentração de editoras mas não parecem estar preocupadas com as grandes superfícies de livros, tipo a Fnac, as Bertrand ou os hipermercados, que põem condições cada vez mais impossíveis e chocantes aos livreiros e aos distribuidores. A grande margem dos livros é do revendedor final, desses grande stands.»
Inês Pedrosa, Sexta, 06.06.2008, p. 15