quinta-feira, 26 de junho de 2008

Entrevista José Mário Silva

O José Mário Silva acedeu a uma entrevista por e-mail para o Blogtailors. O leitmotiv é o seu livro Efeito Borboleta e outras histórias, mas as perguntas são todas elas dentro do espírito deste blog: a edição de livros propriamente dita. É a primeira experiência do género, mas pretendemos repeti-la, assim os editores e autores o desejem.


Efeito Borboleta e outras histórias sai pela Oficina do Livro, grupo que foi recentemente adquirido pelo Grupo LeYa. Quais lhe parecem as grandes vantagens/desvantagens de publicar num grande grupo?
Antes do mais, convém dizer que a notícia sobre o interesse do Grupo LeYa em adquirir a Oficina do Livro (e as outras editoras então controladas pela Explorer Investments) surgiu no início de Maio, numa altura em que a edição de Efeito Borboleta já estava em marcha. As vantagens de publicar num grande grupo são óbvias: garantia de que os livros são bem distribuídos; visibilidade nas livrarias; mais hipóteses de conseguir vendas razoáveis. As desvantagens são menos óbvias: o risco de diluição num catálogo enorme; a exigência implícita de bons resultados comerciais; o estar à mercê da lógica capitalista (que vê na literatura um produto como outro qualquer). Também por isto, não me imagino a publicar exclusivamente em grandes editoras de grandes grupos.

Como autor, qual lhe parece ser a importância de ter um bom editor, no sentido anglo-saxónico do termo?

Ter um bom editor é fundamental. Alguém que ame os nossos textos tanto como nós e seja capaz de sugerir alterações, emendas, melhoramentos. Alguém que não tenha medo de apontar o dedo quando é preciso apontar o dedo. Alguém que nos defenda da nossa involuntária cegueira. Alguém que trabalhe, página a página, com a obsessão do ourives. Repito: ter um bom editor é fundamental. E eu tive. Chama-se Marcelo Teixeira. É também fundamental ter um bom revisor. E eu tive. Chama-se Manuel Dias.

A Oficina do Livro sempre imprimiu uma grande importância à elaboração das capas, princípio ao qual não foge o seu livro. Qual lhe parece ser a importância das capas no processo de compra dos livros?
Enorme. As capas são o equivalente do rosto humano. Podem atrair ou afastar o leitor. No meu caso, prefiro a sobriedade à francesa (com a depuração levada ao extremo), mas também sei que essas capas se perdem nos expositores multi-coloridos das livrarias actuais. Não creio que isso venha a acontecer com a bela sobrecapa do Efeito Borboleta, que para mim evoca os tempos em que estudei Biologia (não deixando de respeitar a linha gráfica da Oficina do Livro).

Tem dinamizado algumas acções de marketing no seu blog, de forma a promover o seu livro. Qual lhe parece ser a importância da blogosfera para a promoção das obras?
A blogosfera vai ser um veículo cada vez mais importante para a promoção dos livros, até porque permite uma interactividade em tempo real com os leitores, além de fenómenos de natureza viral que chegam a milhares de destinatários com uma rapidez e precisão que os métodos tradicionais de marketing não alcançam. Depois há o extraordinário efeito democratizador de tudo isto, porque passa a ser fácil montar uma campanha eficaz com pouquíssimo dinheiro. As editoras pequenas, desde que tenham criatividade e engenho, podem conseguir pequenos milagres. E já há alguns casos de estudo recentes no nosso país. O que mais me impressionou foi a série de acções promocionais em torno do livro Caravana, de Rui Manuel Amaral, editado pela Angelus Novus.

O jornalista cultural José Mário Silva influenciou o autor José Mário Silva, isto é, escreveu alguma frase a pensar que iria agradar à crítica?
Não. É verdade que os dois habitam o mesmo corpo, mas mal se conhecem. E ainda bem, porque o primeiro seria naturalmente implacável com o segundo. Aliás, o segundo só escreve quando o primeiro está a olhar para outro lado.

Qual lhe parece ser a importância, hoje em dia, da crítica literária para o processo de escolha dos livros por parte dos leitores?

Infelizmente, muito pouca.



O lançamento da obra decorrerá na sexta-feira, na Casa Fernando Pessoa, pelas 18h30. A obra será apresentada por António Mega Ferreira.